Bodas de trigo

Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda
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3 min readMay 8, 2018

Neste mês, completo três anos de casado e, segundo o Google, chama-se bodas de trigo. Não vi muito sentido e pouco importa, o objetivo desta crônica é falar de uma conclusão a que cheguei: sou um péssimo dono de casa.

Não precisava desse tempo todo para essa constatação, mas a minha desorganização diária tem gerado grandes e graves problemas. Inclusive com a minha esposa que, sinceramente, às vezes acho que tem vontade de desistir de mim. É por isso que tenho tentado mudar. A passos bem lentos, é verdade, mesmo assim tenho conseguido, meu lado otimista afirma.

Vou citar alguns exemplos: nunca mais coloquei latinha de refrigerante vazia na geladeira. Antigamente, fazia isso para economizar alguns passos e não precisar caminhar até a lixeira. Ela chamava essa minha estratégia de preguiça e ainda dizia que eu era “sujo imundo”.

Outra coisa que não faço mais: deixar minhas roupas espalhadas pelo apartamento. Fazia isso no automático, chegava em casa e deixava as roupas espalhadas pelos cantos. Para o sofá, sempre sobrava a camisa. O clima esquentava quando eu argumentava que era para pegar um “ventinho”.

Uma mania que eu tinha que ela não suportava. Corrigindo o verbo: não suporta. Tomar banho e deixar a toalha encharcada jogada na cama. Isso só não a irrita mais do que quando deixava a tampa da pasta aberta ou esquecia de dar descarga. Quando eu explicava que era porque a água do planeta estava chegando ao fim, ela tinha vontade de me jogar dentro do aparelho sanitário. Tenho certeza absoluta que ela já pensou em fazer isso várias vezes. Ainda bem que só pensou.

Você deve estar lendo esse texto e sentindo pena da minha esposa. Mas eu também tenho minhas qualidades. Deixar eu ver qual é… Não vou ficar falando para não parecer que sou egocêntrico. Isso vai piorar ainda mais minha imagem. Melhor não. Embora tenha várias qualidades. Inclusive, pode perguntar para a minha mãe. Ou para o meu pai.

Apesar de todo o meu esforço para mudar, continuo dando os meus deslizes. Uma das poucas responsabilidades que tenho dentro de casa é comprar água. Pelo menos, com isso, ela não precisava se preocupar. Olha o verbo conjugado errado novamente. Ela termina se preocupando. E muito.

Uma vez chegamos em casa cansados, após um longo dia de trabalho. No meio da noite, ela lembrou que não tomou seu anticoncepcional e levantou-se para tomar o remédio. Adivinha o que aconteceu? Isso mesmo, não tinha água. Óbvio que ela me acordou e fez questão, com razão, de esfregar na minha cara mais um vacilo que dei. Eu, fiquei sem saber o que falar, sem saber o que dizer e para aliviar a situação, falei que, qualquer coisa, o nome do menino seria Poseidon. Na mitologia grega, significa o Deus dos Mares. Ela riu, o clima ficou mais leve e depois foi dormir. Esse tem sido o segredo do nosso casamento: as gargalhadas, mesmo nas situações adversas.

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Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda

Redator, publicitário, jogador e metido a escritor. Autor do livro de crônicas: Blá Blá Blá.