Bordado

Júlio Carvalho
Revista in-Cômoda
Published in
Aug 22, 2023
Image by Pexels from Pixabay

A boca seca e amargurada
Adentro só pela madrugada
Feito lobo ou marujo
Pra não morrer, aperto um acorde
Um choro vira meu norte
Mas dura feito um cigarro fajuto, diminuto

O legado da solidão é feito tesoura em pano de seda
Depois se repara,
refaz, costura e ampara
Mas apenas arremeda

Os vícios não adiantam
Entorpecem a esperança
Atiçam a ânsia de mais um desespero
Abrem o tampo, oferecem a fé, mas jogam a pá no fosso desse bueiro

Tive rastejando nos cacos do desdém
Restou desamparo, como um mero refém
Em contraparte, feito bordado
a queda me virou do avesso
Revi as cicatrizes, pesei o meu fardo
Mirei na ferida, vendado, lancei o dardo
Da mágoa despi roupa e sapato
Assim me preparo pra mais um passo

ou tropeço

03/07/2023

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Júlio Carvalho
Revista in-Cômoda

Espaço de pequenos ensaios e reflexões. Dos pensamentos miúdos que poderiam se perder por aí. Temas sobre história, política, poesia e afins. °Cientista Social