Canto do Amor

J. Fontalba
Revista in-Cômoda
Published in
1 min readFeb 27, 2018
Dante e a sua Beatriz — “A Divina Comédia”, Paraíso, Canto XXXI.

Para a A.I.B.

Meu Amor, porque comigo ficaste
quando podias ter permanecido
na nuvem onde te encontrei.

Meu Amor, porque me libertaste.
Foi p’lo fogo que me enviaste
que pude ir mais além.

Meu Amor, porque me enobreceste.
Rainha minha de manto de estrelas,
que caiem docemente
no meu coração, porque me amas.

Meu Amor, porque me deste a ver
desse ar que se respira
pleno de mundos outros
e que juntos degustámos nas noites
em que, amplos como galáxias,
bebemos do sumo da romã.

Meu Amor, porque sem ti
não haveria vinho no meu copo,
desse que em vez de inebriar
nos enche do todo, que é Amor.

Meu Amor, porque não sabes
nem conheces os sonhos que por ti
sonhei acordado, felizmente criado
à imagem daquele que escolheste amar.

Meu Amor, porque não escolheste.
Nem eu. E assim nos amamos, sem querer,
tudo sobrando quando estamos,
nada faltando ao que somos,
e na inteireza de o saber,
vemo-nos afinal vazios,
corpos desnudos, mas quentes
com o Amor que nos damos
e que suportamos,
porque nos suporta.

Meu Amor, porque o Sol não basta.
Meu Amor, que nos arrasta,
para sermos de ambos, nosso Norte.

Novembro 2017

--

--

J. Fontalba
Revista in-Cômoda

Poeta. Livro “A Primeira Manhã — Antologia 2012–2017” disponível em Novembro de 2018.