Cartas I — Renascimento

Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda
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3 min readOct 14, 2018

Em um tempo distante, as pessoas se correspondiam por cartas escritas à mão e enviadas por sistema analógico de entregas comumente chamado de correio. Por consequência, viviam a angústia de imaginar o recebimento da carta, e se um dia receberiam resposta.

- Renascimento

Olá, tudo bem?

É incrível como 11 meses passam voando. Principalmente quando a vida está em tamanha ebulição. Sinto que renasci, estou em outra vida. Aquela guria de um ano atrás… já não reconheço mais.

Quando cheguei aqui, passei um mês conhecendo os lugares, para me identificar, sabe. E, olha, esses 30 dias foram pouco para ver tudo o que eu queria.

É um país maravilhoso e, embora diferente, faz com que eu me sinta em casa… É como se já conhecesse sem nunca ter estado nos lugares. Eu gosto dessa convivência entre o histórico e o moderno. Fico imaginando o quanto essas ruas, esses prédios e monumentos já não viram… Séculos ditando as regras da política e da religião no mundo.

Mas, claro, o que mais me fascina é a Arte. Posso passar o dia inteiro só admirando, absorvendo, me inspirando nessa cidade.

Assim que voltei para a Florença, encontrei um lugar para ficar e passei uma semana procurando emprego. Queria qualquer coisa que não tomasse o meu dia inteiro, só para pagar as contas. Bem, o meu lance é conseguir estudar, afinal.

E consegui, exatamente uma semana de procura. Nessa hora pensei que o Universo me deu um sinal, sinal de que eu ia conseguir ir adiante. Meu maior medo era — e ainda é, na verdade — ter que voltar logo, ter que desistir.

Depois de três meses, já estava matriculada no curso dos meus sonhos. Você consegue me imaginar uma estudante de Artes na Florença? Há tão pouco tempo era um sonho distante… aliás, acho que nem nos meus sonhos mais audaciosos cogitava estar tão longe.

É incrível.

Estar aqui, renascida, respirando arte nesse solo onde pisaram e viveram os maiores mestres… É incrível. Me sinto plena. Tenho muitos planos e isso me dá uma energia louca, sinto uma vibração de vida que nunca havia experimentado.

Cada dia da minha vida tão simples, mas cheia de propósito, não cede espaço para que eu me arrependa das minhas decisões. Tenho, sim, saudades. Das pessoas, dos momentos felizes, de pequenos gestos e de fazer parte da história de alguém. Mas não tenho saudades de quem eu era.

Sabe quando você sente uma felicidade muito grande e deseja de todo o coração compartilhar a alegria com que você ama? Quando você escuta uma música ou assiste um filme espetacular? Quando lê um livro ou encontra uma praia imperdível? É como eu me sinto com a vida que estou vivendo.

Vivo meus dias acreditando que o que tiver que durar, permanecer, vai encontrar seu meio. Bem, e eu realmente espero poder te reencontrar nessa nova vida. Seria uma nova história, tenho certeza que seria muito diferente. Afinal, não sou mais a mesma pessoa.

Seria uma boa nova história.

Não é tão fácil dizer tudo assim, numa carta, fico desejando saber como cada palavra encontra meu destinatário. Espero que bem. Se um dia quiser me escrever, eu ficaria muito feliz em ter notícias suas. Aí vão meu endereço e do café onde estou trabalhando.

Beijos,

Mi.

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Andresa Scucuglia
Revista in-Cômoda

Música, filmes, livros, inovação, a vida, o universo e tudo mais. Sou jornalista e trabalho no Banco do Brasil.