Chamas
As vezes eu queria rasgar a minha carne e incendiar o mundo com minha alma.
Diante da plateia de esfarrapados espantalhos eu declamaria uma poesia velha enquanto as chamas engoliriam a todos
Quando eu nasci não existiam dores, não existiam sofrimentos. Quando eu nasci não existiam vozes irritantes e acusadoras.
Eu me perdia no pomar observando os gotas de chuva escorrerem sobre as cascas lisas e rubras das maças. Eu adorava maças.
Sonhos e pesadelos entrelaçados para formar uma narrativa erótica e sacra, sobre anjos apaixonados e demônios arrependidos.
O tempo não passa quando você o observa, mas ele simplesmente se desfaz, como as areias da ampulheta escorrendo por entre seus dedos quando você se deixa levar pelos momentos. E não se engane, a vida é feita deles.
Você já sentiu a brisa do mar acariciar seu rosto quando você esta sobre as nuvens, deslizando na noite como um fantasma tangível?
Não. É claro que não. Você mal sente a própria respiração, perdido demais com seus ‘probleminhas’ transformados em tempestades.
As vezes eu queria rasgar a minha carne e incendiar o mundo com minha alma. Mas percebo então, em espírito e razão, que o mundo já esta em chamas.