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Desacelerando consegui me perceber

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
3 min readMar 22, 2023

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Decidi parar. Já deu. Pé no freio. Acabou.

Decidi parar de viver como sempre vivi. Ou achava que vivia.

Correndo atrás de algo que nunca soube do que se tratava e que invariavelmente me faltava.

Para chegar a esta conclusão tive que tomar um susto.

Já vinha “estragando” muitos domingos, em que normalmente após o almoço esmorecia, me fechava e cabisbaixo ficava até a manhã seguinte.

Levantava forçado ao repetitivo (e sem desafio) trabalho e que há muito tempo pouco me dizia.

O que salvava era o bom ambiente com os colegas que transformei em amigos neste período e também com a chefia direta.

Minha irmã falava que esse era mérito meu, já que por onde passei deixei muitas risadas e amizades.

O fato era que mesmo com várias mudanças de comando a chefia imediata sempre foi muito compreensiva comigo.

E disso não esqueço.

Porém em uma segunda-feira eu não quis me levantar.

Na verdade, eu não consegui me levantar.

Era como se tivesse uma tonelada em cima do peito.

O que ajudava a sentir o mesmo peito apertar, uma profunda falta de ar com a glote parecendo que se fecharia a qualquer momento.

Me senti pequeno de novo como quando recebia uma bronca na época de criança.

Nestes momentos o mundo todo crescia e eu ao mesmo tempo me sentia menor ainda.

E a isso tudo que citei acrescento que algo no meu pensamento tinha vida própria.

Ali me senti passageiro dos meus pensamentos.

A única frase que vinha na cabeça era: “Eu não vou!”.

E não fui.

Fui a um médico que identificou pressão alta e o que ele logo de cara descreveu como princípio de uma crise de pânico e de ansiedade.

Exames feitos em 5 dias e constatados:
Além da pressão arterial, baixíssima taxa de vitamina D, colesterol alto, triglicérides altos e mais alguns marcadores nada confortáveis para um cara de 44 anos.

Um sujeito de 44 anos que cuidou mais da sua vida profissional do que da pessoal e da mental.

Só que hoje estou no segundo tempo da minha vida, tendo em vista que a expectativa de vida do brasileiro hoje é de 76 anos.

E que nunca nesse tempo todo trabalhei com o que gostava de fazer.

Sempre, desde os 14 anos, fiz o que tinha que fazer, mas nunca o que eu quis fazer e na verdade nem sabia o que eu gostaria de fazer.

Até sabia, mas julgava impossível.

Um sonho distante.

Um “algo” que sequer existia.

Depois desse dia nada mais me parece impossível.

Por mais que tentem me convencer do contrário.

Ser infeliz “preso” em um escritório, sem nunca ter tentado fazer aquilo que amo me mataria de desgosto e arrependimento.

E não acho justo fazer isso com a pessoa que mais amo.

Ainda mais agora que percebi que tentar foi algo que nunca havia tentado.

*Este texto tem 3 anos, mas parece que o escrevi ontem.

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.