Desamor

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readJul 25, 2019

Queria começar dizendo que não te amo mais.
Queria, tentei, saiu a primeira frase e só.

Parei pra escrever poesia de desamor, sobre qualquer ex amor que tive, alguém que um dia amei ou até que só fui apaixonado por alguns minutos. Contar através de versos como foi perder esse sentimento, como estou hoje depois de recuperado, como é perceber que já é passado o tempo, andar pra frente sem precisar olhar pro lado.

Passei três dias inteiros na frente de uma folha limpa, rascunhei uns nomes, vi sorrisos trocados, mas não saiu nada além de alguns “obrigado”. Na folha eu não pintei um risco de tinta, pensei nos planos sonhados, lembrei de cada mensagem, era cada memória linda, não tinha como ficar chateado.

Eu sem querer descobri que ainda amo.
Pensando bem, eu não me preocupei se ainda sou amado.

Eu sorri a cada lembrança, passeio no parque, num banco de praça, mais um trem lotado em dia de domingo, ir ali comprar salgado era o rolê mais lindo do mundo, dividir a mesma cerveja, e depois comprar mais 5 porque bebemos demais. Acordar cego com sua beleza, lembrar da noite só pelas roupas no chão, não foram tantos amores, nem houve tanta paixão, mas eu percebi que ainda amo, que por mais que procure, não encontro motivo pra dizer que não.

Namoro, casado, lance, chance que fosse algo, beijo roubado de lado, abraço apertado que quis que fosse mais, dias e dias sonhados, noites em busca de paz, o que sinto não foi trocado, vivi à deriva em busca de um cais, e enquanto fui navegado, enquanto fui companhia, ainda tenho gravado, seu toque quente com a mão fria. Lembro da gente em plataforma de trem, lembro da mensagem perguntando se chegou bem, lembro que ainda amo, que o que eu sinto vai além, sei que eu não vou mudar, enfim estou conformado, vou seguir a te amar.

Então eu desisto, não vou tentar ser desamor.
Queria dizer que ainda te amo.
Não só queria, quero, disse, declamo.

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