Desde aquele dia eu vejo um fantasma no espelho
Não danço mais, minhas piadas são secas
E com, frequência, não retribuo carinhos
A idade e o passar do tempo mal alimentam esperanças
E pela primeira vez tenho certeza de que não estou louco,
estou completamente triste, a loucura apenas atrasa perspectivas
Me mantenho vivo, me visto por obrigação,
Sorrio por educação, e as vezes rio
Mas ontem tirei um espelho da parede
E joguei do seu lado da cama, vazio
Me fitei por horas, chorei sem anúncio
Minha face por mais neutra que a tentasse manter,
carregava uma dor de nomes
Nomes e vazios, coração partido
E ando por tantos espaços do mesmo jeito sobrevivente,
sem sonhos, o mesmo jeito de sofrimento
Te vi na rua esses dias
Não sei se tinha pressa ou agora se parece como eu,
E por mais que relaxe as sobrancelhas parece sempre preocupada
Tinha ontem um fantasma do seu lado da cama,
Que nunca ouso espantar em respeito às glórias do passado
Em respeito às coisas ainda vivas,
A luta e o nome, a barba e unhas que crescem, a presença
É possível que haja uma luz no fim do túnel,
mas o caminho é longo, não há nenhum estímulo
Receio a cada instante me prometer felicidade
Talvez fosse mais fácil nunca ter morrido