Eu odeio visita.

Odeio fazer, odeio receber.

Tiago da Silva
Revista in-Cômoda
2 min readJun 11, 2018

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Visita é uma coisa do tempo da minha vó. A minha vó, aliás, recebe muitas visitas.

Não me entenda mal, não odeio todas as pessoas. Tem algumas poucas que não odeio, mas nem por isso quero visitá-las ou receber sua visita.

Visita é íntimo demais. É gente dentro do lugar onde eu moro. Ponto.

Visita suja: eu faço o café, eu sirvo o café, eu lavo a louça do café, eu guardo a louça do café. Eu não quero ser empregado de ninguém dentro da minha própria casa. Também não gosto de ser a visita que escraviza o anfitrião. Odeio o conceito de “fazer sala”, me remete a um tipo de suplício, de sofrimento. E é!

Não tem assunto. Eu não sou tão interessante assim pra conversar por duas horas com ninguém dentro de uma casa — normalmente com uma tevê ligada. E as pessoas que conheço, salvo raríssimas exceções, também não o são. Fatalmente o assunto vai descambar pro lado do clima, da Copa, dos buracos na minha rua. E isso não é interessante. Eu fico olhando pras paredes e pros porta-retratos com vontade de morrer bem rápido.

Normalmente eu interajo mais com os pets da casa do que com os donos. O problema é quando não tem pets…

É constrangedor e não tem nada pra me salvar do constrangimento. Se estivesse num café, numa padaria que fosse, eu poderia quebrar o gelo falando do penteado da atendente, do cardápio, da decoração. Dentro de uma casa não, não dá, não há recursos. Não há ferramentas para quebrar o gelo.

Uma visita é como fazer stand up para uma plateia difícil.

Você fica olhando o seu caderninho de assuntos possíveis, vai testando um por um mas todos se esgotam em 30 segundos e volta o silêncio sepulcral. Os grilos cricrilam nervosos.

Me chama pra um café, uma padaria, cinema, shopping, teatro, show, pra calçada, uma trilha, pra comer bergamota na praça, pra ficar sentado no sol…mas não me chama pra uma visitinha ou uma jantinha em casa. É chato. É deprimente.

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Tiago da Silva
Revista in-Cômoda

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.