Eu sei que pode doer

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readMay 28, 2019

Insisto e visto o olho
Sem um cisco que cai
Ainda em casa eu mexo,
Baú, a caixa, o cesto.
Procuro fundo o meu melhor sorriso, oh pai
Ponho minha melhor roupa,
Passo até perfume,
Já acostumei a engolir o choro,
Eu sou meu próprio auto-tune.

Voz grave esconde o grito
O susto assombra a sombra
No espelho nem reflexo
Se eu contar nem fecha a conta
Quebrado em 7 cacos
Só eu que sei o preço
Eu fiz meu próprio contrato
Subi meu sonho de joelhos
Quero escrever um livro
Me escondo nos escombros
Meu jeito demolido
De levar entulho nos ombros.

Minha letra me maquia
Sorriso esconde a falha
Bochecha com covinhas
Mascarando as dores da alma
Eu uso a arte pra quebrar os muros
Dessa vez nem falo do mundo
Parede de bloco pronto
Colocada em frente ao peito
Isso é cíclico, cínico e cênico
Nunca ameno, me sinto anêmico
E claustrofóbico, sinto me em pânico
Orquídea presa no jardim botânico.

Eu sou um labirinto
Meu próprio minotauro
Não sei o meu caminho
Perdido me sinto um otário
Queria ser Romário
Descobrir meus atalhos
Me jogar na grande área
Quero um pênalti marcado

Ser visto nesse estado
Espero que não entenda
Se ousar me ler ao contrário
Eu não sou conto, sou lenda
Minha auto-estima
Às vezes me ensina a seguir
Ouvir poesia sempre me instiga a seguir
A escrever minha história
Ser minha própria memória
Abrir museu de algo que ainda existe aqui

Quando subo num palco
Não posso mais chorar
Mesmo despedaçado eu sei o que esperar
A cena acena dor
Esquecem o sofredor
Só querem ver o fogo
Sem sentir o calor

Meu verso é meu abrigo
Já disse, é quase um circo
Poeta é um palhaço que nem sabe sorrir
Meu verbo preferido,
Vou te dizer, preciso
Nem todo infinitivo
Quer dizer ser infinito
Mas assim mesmo eu sigo
Ocupando o recinto
Sei o que eu quero ser
Ainda prefiro amar
Mesmo que faça doer.

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