“Eu sou eu e minhas circunstância. Se eu não a salvar, não hei de me salvar”. Ortega y Gasset
Durante muito tempo, as ciências da psicologia pensaram o ser humano dissociado do seu contexto. Assim, foi possível acreditar que conseguiríamos ter uma compreensão universal do humano. Não demorou para que teorias criadas em outros países tivessem difícil aplicação em outras realidades, pois como sabemos hoje, as variáveis sócio econômicas e culturais particularizam a nossa experiência e a sua compreensão. Assim, testes de inteligência, de personalidade e outros atributos foram e ainda são relativizados. Da mesma forma, ao se pensar sobre um indivíduo, hoje precisamos mais pensar na ideia de CONDUTA do que sobre sua personalidade. É muito difícil (senão impossível) definir um sujeito como uma personalidade, pois isso dá uma ideia de estrutura. Nos percebemos muito mais maleáveis. Conduta nos leva para o “homem em situação” (Pichon-Rivière). Para julga-lo precisamos de uma distância, um sobrevoo por sua realidade, a fim de compreendê-lo e não de estigmatiza-lo. O ótimo filme libanês “cafarnaum” (caos em português) é um bom exemplo dessa relatividade. Já desde o início lidamos com um julgamento de um jovem de 12 anos e que, ao longo do filme, vamos entendendo o que o levou a sua CONDUTA. Quando vemos o seu contexto de uma distância apropriada (o drone que filma do alto nos possibilita uma “distância ótima”) somos mais capazes de entender a complexidade do que vemos. Esse olhar mais sistêmico pode não mudar o passado e até mesmo as penas devidas, mas pode dar enfim uma identidade ao sujeito ao permiti-lo livrar-se de sua invisibilidade social e inventar um futuro para si. No final, apesar de toda vulnerabilidade, é possível também sorrir.