Photo by RoonZ nl on Unsplash

Fingindo ser adulto

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readSep 22, 2022

--

Como definir esta passagem da vida?
Quando você de fato se percebeu adulto?
Afinal o que é ser adulto?

É repetir exaustivamente que “na minha época era tudo melhor”?
Seria viver exclusivamente desse saudosismo vazio e enraizado?
Passei a ser adulto quando calei meus sonhos até que os mascarasse como tolices infantis?
Ou quando abandonei a criança que havia em mim no vendaval?
Ou quando me calei e finalmente consegui entender que nada disso fazia sentido?

O que é ser adulto?
Quem sabe seja se preocupar com o futuro mesmo sabendo que ele chega a cada segundo?
E ainda que viva correndo contra o relógio e reclame de falta de tempo?

O que é se tornar adulto?
Seria ouvir músicas de gente grande?
Abandonar seus gostos e seguir as tendências do “momento”?
E assim se render ao gosto comum?

Há algum ritual que determine esta passagem?
Há algum sino que toque quando nos tornamos responsáveis por nós mesmos?
Quando você se percebeu sem alguém para passar merthiolate nos seus machucados?

Talvez seja se sentir engasgado por ter tanto a dizer ou por ainda assim preferir se entalar com suas convicções abandonadas?
E agir assim por se enxergar maduro, responsável, ajuizado, sensato, ponderado, prudente, cauteloso, refletido, racional, vivido, experiente, equilibrado e amadurecido?
Mas no fundo se sentir um guri de 8 anos de idade se escondendo de fantasmas que nunca viu?

Afinal alguém me diga o que pode ser definido como adulto?
Há algum diploma que nos defina assim?
Ou a pilha de contas já basta?
O peso nas costas, a receita cheia de remédios ou o sorriso forçado?
Ou, quem sabe, seja o simples fato de ter sua carteira de trabalho assinada?

Talvez seja seguir justamente o que juramos fazer diferente?
Ou justamente mordermos a língua por isso?
O que de fato é se tornar crescido?
Algo que berramos na fila do recreio ou as fraldas sujas no cesto?

O cabelo curto que agora sim condiz com a idade?
Quem sabe seja deixar de ser quem você é para ser como os outros?
Talvez o choro entalado na garganta?
Ou as rugas nos dão este título?

Vamos brincar de ser adulto?
Brincamos de ser adultos e como consequência, passamos a infância almejando crescer.
Mas me diga com sinceridade, como aguentamos uma vida inteira querendo voltar ao útero?

Gostou do texto?
Conheça outros através dos meus livros! Que Tal?

Confira os meus livros no site oficial da IS!

Pelos Velhos Vales que Vago (2013 coletânea de poesias.)

Flores Marginais em um Jardim Sujo (88 crônicas retratando as nuances do lockdown na pandemia e SELECIONADO AO PRÊMIO JABUTI 2022)

Contribua com o trabalho do autor através do pix: 02629475794.

--

--

Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.