Fingir que é mentira
ouvir dez horas da mesma música
esperar tiras de texto com minúcias
dúvidas mútuas paralisam o tempo
que passa devagar neste alento de espera
sobrecarrega nossa ansiedade neste sonho
que ninguém nota
não é preciso o saber que é verdade
ilusão faz bem para almas em necessidade
pesadelos explodem em uma frase
do nunca que pode fazer parte
a realidade diz que não podemos ter tudo o queremos
eu também não tenho um objetivo
desafios nunca foram adjetivos
sentimentos orquestram paliativos
na chance de amenizar a urgência
do verbo que se faz em falta
o vazio de diálogos indaga a pergunta fatal
eu viveria isso de novo?
sem resposta, o ontem parece anos atrás
esse tanto de dias mede o quanto somos
dependentes do vamos e do tudo vai ficar bem
bebemos a escuridão e nem percebemos
o prazer de estar livre do senão
um vício permitido
o ar é desprendido
sendo nós mesmos querendo estar aqui
presos entre o não e o sim.
Koka, Japão, 16 de fevereiro de 2020