Haja coração
Consultório. Médico está usando um notebook. Paciente abre a porta.
— Bom dia, doutor.
— Tudo bem?
— Tranquilo. Só um leve desconforto no peito.
— Bom, vamo lá saber como tá esse coração.
Médico se aproxima do paciente. Encosta o estetoscópio no peito dele e comenta o que está ouvindo:
— Batimentos ok, tá?
— Humhum.
— Não tem arritmia.
— Certo.
— Não tem sopro.
— Beleza.
— Mas tem caxirola.
— Caxirola?!
— É aquele chocalho do Carlinhos Brown.
— Como assim, doutor?
Médico franze a testa, curioso.
— Opa. Ouvi um Afoxé também.
— Que papo é esse?
— Pshhhhhiu! Tô tentando ouvir.
— Ouvir o quê?
— Como é mesmo o nome daquela cantora… com voz de cabrita?
— Shakira.
— Shakira! Essa mesmo.
— Eu só quero saber por que…
Com o estetoscópio na mão, o médico começa a dançar funk.
— O senhor tá rebolando, doutor?
O médico volta a si. Depois responde:
— Desculpa. É que entrou um batidão pesado e eu me empolguei.
— Tá, mas só me explica por que…
— Pshhhhhhiu! Pera aí. Agora tá rolando um som meio indígena, meio gringo.
— Ai, meu Deus!
— É uma mistura de Patachó com sotaque alemão.
— Só tá piorando, doutor!
— Agora tô ouvindo um jogador chorando. Acho que é o Davi Luís.
— É grave, doutor?
— É agudo. Voz fininha, sofrida.
— Tô falando do problema no coração.
— Ah, relaxa. É só um leve quadro de ansiedade pós-traumática.
— E isso tem cura?
— Olha, na maioria dos casos, sim. A chance de ser permanente é mínima.
— Qual?
— A mesma do Brasil levar 7 a 1 da Alemanha.