Imensidão azul
Durante esses meses de isolamento, o céu ganhou protagonismo na minha rotina. Acho que por não poder zanzar pelo mundo, esse foi o jeito que encontrei de não perder a conexão com tudo o que estava do lado de fora.
Passei a observar mais atentamente as cores, as nuvens e os pássaros que estavam de passagem. E confesso que ao vê-los voando pela imensidão azul, senti um pouco de inveja dessa liberdade de poder ir para onde bem entender, sem medo, sem máscaras.
O céu foi ainda uma conexão entre meus amigos e eu. Porque vez ou outra, no final da tarde, a mensagem “alerta de céu bonito” chegava no meu celular e ao ir até a janela para olhar o céu, me sentia mais perto deles. ( A foto de destaque dessa publicação foi tirada após receber uma dessas mensagens)
Até hoje lembro de um dia, no começo da quarentena, em que os Stories do Instagram foram inundados por fotos de um pôr-do-sol que parecia uma pintura de aquarela, em tons de rosa, laranja e amarelo. Lembro porque nesse dia eu não consegui ver o céu. Estava trabalhando e quando peguei o celular, me deparei com imagens belíssimas do sol indo embora para o outro lado do planeta.
Algumas fotos foram tiradas do alto de prédios, outras da janela de casas periféricas e algumas de sacadas imensas voltadas para o mar, mas todas tinham a mesma função, contemplar a beleza do entardecer, do fim de mais um dia de pandemia. O céu deu de presente para nós um momento de conexão por meio da tela imensa que ele mesmo pintou.
No meio desse turbilhão de notícias tristes e aterrorizantes, ter esse escape de ir até a janela e olhar para cima, foi o que me salvou de ter ainda mais crises nervosas durante o isolamento. O pôr-do-sol foi um dos meus melhores aliados nessa batalha contra a angustia de não saber quando tudo isso irá acabar.
Sinto que o fato de eu parar alguns minutos para observar o sol se pôr me trouxe sentimentos confortantes. E eu agradeço ao universo por isso. Todos os dias que eu conseguia observar a imensidão azul ganhar cores quentes e depois se transformar em breu, uma esperança tomava meu coração. Eu pensava: “amanhã tem mais e pode ser melhor que hoje”.
Eu sei que pode parecer uma visão muito ingênua e positivista, mas tenho que acreditar nisso, senão eu desamino.