INFINITAS FORMAS DE SER

Cintia Migatta
Revista in-Cômoda
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5 min readJun 18, 2020

(CUIDADO! Este texto contém reflexões e provocações existenciais)

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Acho que Deus me fez roda, me fez círculo, me fez aparentemente dessa forma, mas por dentro tudo se desenforma e se transforma em circunferências e espirais!

Tenho meus ciclos do dia, meus ciclos da semana. Sou influenciada pelas fases da lua, pelas estações do ano, pelos ciclos astrais e pelos hormonais. Tenho ciclos emocionais, menstruais, ciclos de expansão e de contração. Tenho ciclos de cuidar dos demais e ciclos do auto cuidar, ciclos de escrever, ciclos de silenciar. Tenho ciclos de manifestação e ciclos onde visto minha capa da invisibilidade. Haja maturidade pra tanta diversidade! E, nesse movimento giratório coerente e contraditório, caminham também meus pensamentos, ora em harmonia, ora rumo ao sanatório!

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Pensando bem, há momentos também em que as formas arredondadas cansam de dançar quadrilha ou permanecerem de mãos dadas… abandonam a ciranda, formam linha reta, viram pontas afiadas, crenças e opiniões quadradas. Por vezes querem dançar em duplas, em trios ou resolvem bailar sozinhas, criar os próprios passos, soltar toda a loucura, sair do ritmo e do compasso! Procuram suas próprias formas, abstratas ou amorfas. Querem inventar sem rascunho, criar sem referência! Querem ser sem qualquer censura, no claro ou no escuro, manifestarem o que são em essência, sem o invólucro conveniente, mas contraditoriamente limitante, por vezes sufocante, da forma e da aparência!

Criador e criatura. Doença, remédio ou cura! Libertação.. ou a própria ditadura! Discrepantes, repugnantes, contrastantes, amantes, ínfimas ou gigantes! Cada distinta energia, seja tristeza ou seja alegria, me lembra constantemente que estou viva!

Todas elas, ao olhar mais atentamente, têm cores, têm cheiros, têm sabores. Som, temperatura, velocidade, intensidade, idade, textura! Quando tudo está calmo e constante demais, algo em mim critica aquele tom de permanência. Quando me percebo no limbo da inércia, resolvo me equilibrar em apenas um pé, pois a ousadia e a irreverência, com uma boa dose de fé, me lembram quem eu sou, de que sou responsável pelas escolhas que fiz e que me coloquei aonde estou! Reforço para mim mesma que água parada apodrece; que aquilo que está morto enrijece; que o arrepio sem explicação é o indicativo daquilo que fala ao coração… e de que o que é verdadeiro, mesmo na dinâmica, permanece!

Minha mente humana precisa objetificar, dar forma palpável a certas experiências. Tornar objeto, materializar o inexplicável, aproximar do que já conheço ou tenho como referência. Algumas coisas, no entanto, não precisam ser explicadas, bastando apenas que sejam vividas, experimentadas, sentidas, ouvidas e compreendidas, na sua forma própria de comunicação, muitas vezes chamada de intuição.

Já me julguei oscilante, maluca e vacilante com esse meu jeito inconstante de ser! Lutei contra, fui atrás de tratar e busquei terapia… considerei uma putaria tanta rebeldia emocional nessa forma de viver! Até que um dia deixei de querer entender! Me dei conta de que é exatamente assim, inexata, a regra e a exceção do viver!

A perfeição da natureza é bem o oposto daquilo que fomos influenciados socialmente a perceber! Não existe exatidão, métrica, estética. Nem é passível, realmente, de comparação! O universo adjetiva-se nas qualidades e experiências marcadas pela subjetividade, diversidade, autenticidade e contrastação (palavra inventada, com o significado de contrastes em constatação)!

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Percepção é efeito daquilo que contrasta! Valorizo a luz porque conheço a sombra. Vejo a luz da lua e das estrelas porque o céu e o sol silenciaram o seu brilho. Sei que evoluí porque meu comportamento hoje é diferente da forma como agi em situação passada semelhante. Mudanças construídas ao longo do tempo ou processadas no último instante!

Contraste, diferença, peculiaridade, espectro, notoriedade, escala, dualidade. A dualidade é apenas a fórmula-forma da praticidade humana categorizar nossas experiências de maneira não-infinita. Pega-se tudo aquilo que tem alguma similaridade e compacta-se em certa categoria, para dar à nossa vida, alguma forma-lidade.

Opostos realmente não existem! Você pode dissolvê-los e juntá-los a qualquer momento: Já senti tanto frio, que cheguei a um ponto em que não sentia mais nada! Já senti tamanho calor, que fechei os olhos e me imaginei em um iglu no Polo Norte e então meu corpo inteiro arrepiou de frio! Entendi que percepções são lugares vibratórios, espectros de energia cujas linhas que eu julgava extremas, realmente encontram-se no momento em que eu quiser! E independente do que acontece fora ou do que acontece dentro, o significado ou qualidade da experiência/interação percebida é aquela onde estava a minha atenção, também chamada de consciência.

Experimentar é perceber em si a alquimia resultante de cada interação!

O que não contrasta não se diferencia! Acrescento que perceber depende também da escala com que se observa. Quanto mais aguçado o olhar, mais detalhes e particularidades irá observar! Te desafio agora a experimentar:

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Ainda sobre a forma, precisei tornar texto, objetificar em palavras, certas inquietações que mantinham meu coração aflito: A FORMA de observar e perceber torna a vida um tédio ou faz tudo ter cor e tender ao infinito!

A provocação tomou forma de letras, que se agruparam em palavras, frases, parágrafos, organizados para trazer um novo olhar em forma de texto. Sabedoria subjetiva de vida, apenas percebida pelo contraste das letras pretas em papel ou tela branca e pela sua voz, audível ou visceral, que lê essa mensagem, rompendo o silêncio ou destacando-se no caos da sua agitação mental!

O que movimenta dentro de mim desperta forças e medos. Toma forma ao sair pela boca e ao virar escrita pelos meus dedos. Minha energia reflexiva e bagunçada, transformada em palavras, agora penetra outros corpos! Ao serem lidas, foram absorvidas por você, caro leitor! Informação é ENERGIA que tomou forma. Tem força. É MAGIA!

E quanto aos ciclos, todos eles são meios que minha mente usou pra me contar sobre mim mesma de uma FORMA que eu encontrasse respaldo e validação naquilo que considero natural e aceito como tal, pois percebo tais manifestações na natureza.

A marca da Criação é a diversidade, a infinitude, a autenticidade! Existem infinitas energias no universo. A natureza delas é o movimento! Eu escolho aquelas com as quais quero interagir e experimentar. Essa é a beleza e a essência de tudo o que é! E digo mais: Comecei realmente a viver quando parei de me julgar, reorientei o vetor energético da minha aceitação e não mais rejeitei a subjetiva constatação: Viver é MOVIMENTO e TRANSFORMAÇÃO!

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Cintia Migatta
Revista in-Cômoda

Eterna aprendiz e buscadora das respostas da vida na natureza e nas experiências cotidianas. Escrevo em prosa, mas (re)conheço-me na poesia. [Brasília/DF]