Inversões

Nalini Vasconcelos
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readMar 28, 2017

Filhos. Desde a gestação, encantei-me com cada mínimo momento que vivi com eles. É cheirar o chulezinho daquele pé abolotado, beijar aquele pescocinho suado de tanta traquinagem, derreter com aquele sorriso sapeca, apertar o coração ao ver aquela lágrima, ninar no colo para que sintam toda a paz do universo emanado do seio de sua mãe. Toda mãe se sente especial achando que foi a única com esse esplendor. Mas é bom sentir-se assim. É tudo. Passei por isso duas vezes.

O tempo vai passando e a gente se surpreende com a rapidez do crescimento. Mudam de berço para cama, depois não cabem mais naquela cama. Trocam a mamadeira por copo. Tiram a rodinha de bicicleta. De repente calçam mais que você. Não só percebemos o tempo pelas roupas e sapatos deixados para trás, mas pela inteligência e esperteza que estão ali se manifestando já de forma autônoma. É sempre um espanto magnífico.

Um belo dia, aquele bebê que vivia em seu colo, inverte o papel. Reflexo autêntico de toda ternura com que foi criado, ele, o bebê — hoje um pré adolescente pensante — coloca a mamãe no colo, de maneira involuntária e instantânea. Essa é a hora de experimentar mais uma sensação única na vida. Senti o calor invólucro do abraço do meu filho.

Este homenzinho ainda é pequeno na fita métrica, mas gigante no coração. É magico perceber que ali está o “grande” ser humano que você formou. E ele está agindo sob uma das substâncias que o muniu todos esses anos: o amor de mãe.

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