Lá dentro daquela caverna,

perdida entre folhas, pedras e umidade,

mora uma mulher com medo,

que se alimenta dos medos alheios,

os quais sempre chegam a ela

através dos pesadelos e pensamentos de outras mulheres

que também tem medo.

A mulher da caverna hoje está muito bem nutrida,

pois sua dieta foi escolhida a dedo,

já que o medo é uma realidade frequente entre mulheres,

porém nem sempre foi assim.

Até bem pouco tempo atrás,

ela morava no alto da copa das árvores,

em um tapete verde voador,

brincava com nuvens e pássaros

e se alimentava de perdão (veja só!),

daquele perdão puro, sincero

e raro de se encontrar,

o que, no decorrer do tempo, quase a matou de inanição

e a fez, por fraqueza, despencar da copa das árvores.

Oportunamente, apareceu um caminhante muito bem-apresentado e,

ao vê-la jogada no chão em meio às folhas secas,

sugeriu algo farto no mundo para se abastecer,

juntamente com a promessa de

nunca mais ficar naquele estado lamentável,

contudo, haveria de ficar claro que tudo tem seu preço:

ela sofreria do mesmo mal que a alimentaria.

Contorcendo-se de dor pela fome e sem conseguir raciocinar claramente,

a mulher aceitou a proposta e o caminhante então lhe apresentou o medo.

Somente após saciar seu apetite abissal,

foi que ela olhou com mais atenção

para aquele homem tão gentil

e reparou em uma luz vermelha saindo de seus olhos…

A história dessa mulher tem várias conclusões

e cada um leva dela o que lhe cabe,

só que ela continua lá,

dentro da caverna,

viva,

alimentada

e sem vida nenhuma.