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Malquerida

Sara Costa
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readApr 22, 2022

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carrego em minhas estruturas um peso
um peso que me arranha as costas
essa envergadura está uns dez quilos
mais densa do que antes
eu nem me lembro mais
de como era ter peso de pena
porque há sempre essa sensação a me rondar
de estar tensa com tudo, eu queria abrir
o meu peito e dançar de novo
eu queria mandar todo mundo para porra
para puta que pariu, queria me despir de toda
a minha vergonha por seu eu, queria largar desse
medo de ser feliz, de errar, de tomar espaço,
de ceder, de me desfazer do que não me pertence
eu queria deixar esse desejo fantasmagórico de ter
o que não vai me preencher, queria romper com o
peso ensurdecedor do meu ego, e rir para as palavras
como quem dança com o vento, eu queria me sentir
querida, mesmo sem tem valor, ou mesmo com o valor
deturpado, valor social é relativo à sociedade.
Acho que me esqueci como é pisar em terra firme,
acho que me esqueci como é estar segura, de verdade.
Não reconheço mais minhas piadas, nem sinto o sabor
dos meus livros preferidos, tudo virou rotina e sempre
parece estar faltando algo. Nada nunca parece suficiente,
nunca. O sarcasmo tomou conta dos meus dias, porque
a verdade dói menos quando mal contada. Não aguento
mais o ciclo de me sentir culpada, sem nem saber porquê,
não aguento mais tentar me encaixar, sempre sabendo que
nunca irei caber, não aguento mais sentar, irrequieta e desatenta
a mim mesma.
eu preciso de ajuda, 45 minutos de terapia não são suficientes
para toda a sujeira mental que se acumulou aqui dentro.

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Sara Costa
Revista in-Cômoda

Curiosa, engraçada, dramática e simbolista. Não necessariamente nessa ordem. Aprecio as palavras com a sagacidade de uma escritora aprendiz