Mar e Rio
RIO
Hoje eu sou todo arrepio. Encrespo, me assusto, sorrio. Fecho os olhos, me lembro, suspiro. Pele, poros e brio. Pelos pelos do corpo inteiro corre um rio. De correnteza forte e liquido frio. Que me gela e me aquece. E eu me inspiro. E finjo estar tudo bem. Mal respiro. Esperando a outra onda que já vem. Quando a sensação caudalosa e escandalosa atinge forte meu peito inerte. E me submete à falta de ar. Revelando um arteiro crepitar de toques que me fazem música, transpirando notas. Minhas veias agora são cordas. Nas quais dedilha um Deus cuja visão me escapa. Virei uma harpa. Que só toca você e mais nada.
MAR
Hoje uma parte de mim é dor e a outra é esperança. Tem uma parte que cala e outra que dança. Uma parte que chora e outra que brinca. Uma parte perdida pede por outra que viva. Hoje choveu na nascente do rio das minhas veias. E a correnteza crescente deságua tudo em cachoeira. Deixa verde o que era seco, limpa o que era sujeira. E o Deus cuja a face me escapa não me toca mais como harpa, mas como guitarra. Dedilha solos que inundam o solo da sala. Com acordes que acordam e sacodem minha alma. Mas nas cordas que fazem vibrar meu corpo, continua tocando você e mais nada.