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Me fingindo de morto

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readApr 4, 2023

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Me fingindo de morto sou menos incomodado.

Me fingindo de morto desistem logo de mim e me deixam em paz.

Nem faço mais questão de ganhar meu biscoito ou mesmo sinto falta de um afago na cabeça.

Daqueles que me deixavam abobado.

Minhas opiniões desistiram de mim.

Só que agora me sinto satisfeito com os ossos do açougue do Seu Bittencourt.

E isso vai de encontro a tudo que tentaram me empurrar goela abaixo:

” Você late para as pessoas erradas!”.

E tinham razão. Hoje me calo.

Ainda assim me confundo quando não sei para onde olhar.

Nem mesmo sei se posso tirar o queixo do peito.

Recolho as longas orelhas amarelas, faço cara de arrependido e delicadamente desvio o olhar para não ter mais enfrentamento algum.

Chega! Os dias de latidos estridentes e mordidas aleatórias acabaram.

Não deveria ser difícil compreender as reações.

Ainda assim o confronto já é algo que não mais me atrai.

Me contento em latir para umas motos que passam por aqui.

E a dar umas mijadas nas rodas dos carros daqueles que pensam ser ricos.

Aquele sonho de ter uma casa também se foi.

Uma família, um lugar quentinho pra dormir e um pote com ração.

Com isso tudo vem uma obrigatória coleira.

E já não sinto mais necessidade de uma.

O risco é de isso tudo voltar ao meu normal amanhã.

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.