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Melhores em quê?

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
3 min readApr 14, 2022

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Hábito que ninguém sabe de que lugar veio e apenas mascara uma necessidade competitiva que acredito não ser muito saudável, nem individualmente nem como parte de uma sociedade.
Afinal somos melhores em quê?

Vejo muitas pessoas com o hábito (que a mim parece recente) de intitular grupos como “os melhores” ou mesmo de direcionar presentes ou pequenos agrados “só para os melhores”.
Você certamente já ouviu alguém usando este termo.
Pode parecer uma tremenda besteira de quem esteja procurando cabelo em ovo, porém isso me incomoda.

Me incomoda esta aparente necessidade de autoafirmação por parte de um cada vez maior grupo de pessoas em que esta busca frenética por afirmar aos outros quem você gostaria de ser.
E talvez seja esse o ponto que move essa questão.

Vemos muito isso nas discussões inflamadas de futebol, no discurso vazio dos extremistas da direita, no bate boca evasivo da política e onde mais precisamos nos convencer de que somos algo ou alguém importante.
Ou mais importante que alguém.
E em temas que nos ajude a compensar algo que nos falte.

O “você sabe com quem está falando” não lhe parece familiar?

Talvez eu esteja me ocupando de um tema inofensivo, até inocente e que para ser melhor analisado deveria ter ajuda da psicologia, entretanto não custa nada lembrar que também achavam inofensivo e patético o movimento nazista em seus primórdios.
Sem comparações, ok?

Quem garante que alguém seja melhor que outro alguém?
Quem decide esta questão?
Para quê esta necessidade?
Só seguimos como galgos desenfreados em uma corrida.
Ou como coelhos seguindo a cenoura.

Essa suposta “competitividade” talvez esconda muito mais que ambição, provavelmente seja algo como um angustiante vazio que só assumimos no escuro do nosso quarto no pré sono, com o rosto enterrado no travesseiro para aliviar o peso da insônia.

E que dificilmente mencionamos na terapia ou que nem mesmo saibamos que exista.

E este vazio nos passa a ilusão de que seja preciso se afirmar a partir de nenhum argumento ou razão.

A partir do nada.
Ou de um nada.
Uma espécie de compensação interna.
Uma argamassa de autoestima.

Apenas para continuar respirando mesmo sem um objetivo ou uma razão que o faça acordar desse transe.
Transe esse que chamamos de vida, cotidiano ou dia a dia.
Mesmo que no íntimo esta pessoa saiba que quando se for provavelmente nenhuma falta fará.

Afinal a vida continua independente do vazio existencial de cada um.
E isso é carregado para o caixão também.
Lado a lado com as arrogâncias, fragilidades e alguns elogios.

Ouvindo quietinho “mas ele era tão bom…” ou não.
Aparecendo no obituário dos jornais ou não.
Sendo melhor (em que diabos seja) ou não.

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.