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Meu sempre incompleto currículo

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
3 min readApr 8, 2022

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Vocês já tentaram se descrever como fosse um currículo?
Já tentaram se descrever de maneira honesta?
Tá bom, não precisa ser tão honesto assim…

Por exemplo, eu me recuso a ser apenas o que está escrito em um pedaço de papel ou em um arquivo renomeado de WORD.

E (bem convicto) sei que posso ser muito mais que meros cursos e antigos empregos.

E talvez consiga falar toda a verdade ou até ser sincero, quem sabe?

Talvez possa até justificar minha futura admissão e parte da minha submissão.

Afinal para tudo há um preço.

Eu sou!

Sou muito mais que meras aptidões adquiridas ou inocentes fraudes curriculares.

Vou muito além de um domínio raso e esporádico do Word e Excel ou mesmo de MBAs, cursos de extensão ou de graduação.

Me vejo sendo muito mais do que um endereço e vários números de documentos no cabeçalho, em absoluto muito mais que minha assinatura ao final desta folha e muito mais que a tentativa de convencer quem o lê.

Não me acho muito, mas nem tão pouco.
Ego e auto estima no devido lugar.

Definitivamente eu não sou!

Não sou somente um apanhado de experiências vividas em um ambiente fechado de 8 às 17 ou apenas um cara que estudou bastante para preencher (ou te enrolar?) esta folha até o final.

Não sou unicamente quem tem conhecimento de várias línguas que não vai usar no dia a dia de trabalho, assim como não sou apenas mais um atrás de uma suposta segurança financeira que não existe e que ainda assim me vejo como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.

Abusado como sou eu solicito…

Que evitem me incluir em trabalhos em grupo, por favor.

Tenho dificuldades em lidar com pessoas.

Tipo, a maior parte delas.

Quase todas.

Não sou muito chegado a longas reuniões embora consiga disfarçar bem até a primeira bocejada.

Em compensação desejo “bom dia” em alguns dias da semana.

Segunda-feira nunca.

Nem pensar.

Por falar em reuniões, se puder resolver todas elas com um simples e-mail ficarei muito grato a ponto de esboçar um sorriso falso na sexta-feira.

Neste currículo também deixo claro que:

Também não me peçam para usar palavras em inglês apenas para mostrar que estão fazendo algo importante ou que tenha alguma relevância.

Isso não engana ninguém mais, não é mesmo?

Nada de workshop, briefing, coach, approach, CEO, deadline ou feedback.

Se quiserem imitar a Bela Gil e partir para substituições fiquem à vontade para usar seminário, instruções, monitor, enfoque, executivo, prazo final ou comentário.

Fará sentido mais rápido para todos.

Tem isso aqui também ó.

Tenho uma dor de cabeça recorrente que aumenta com o número de vezes que sou interrompido pelo telefone.

Embora acredite que não seja um problema deixar o mesmo fora do gancho, não é mesmo?

Vocês sentem uma vontade quase incontrolável de sair correndo toda vez que faltam 15 minutos para marcar o ponto de saída?

Não? Só eu é?

Podem falar a verdade…

Posso também deixar aqui registrado que já tive medo de escuro e mijava na cama quando mais novo?

Eu sei que não deveria colocar isso no meu currículo, no entanto coloquei por falta de assunto.

O quê? Não fica bem escrever isso logo após listar o curso de equilíbrio emocional que me mandaram fazer na última empresa?

Ah! Ultimamente tenho percebido que altero a ordem das letras quando digito.

Dislexia que chama, né?

O plano de saúde daqui é bom? Vou precisar.

Ah! E não trabalho fim de semana porque minha religião e meu time não permitem.

Uma qualidade?

Só uma?

Faço um café delicioso que é muito elogiado por sinal.

Tenho um repertório enorme de piadas escrotas para ciceronear os visitantes.

Nunca voltaram para reclamar.

Meu maior defeito?

Ah! Ás sextas (e no dia do pagamento também!) dou umas risadas muito estrondosas.

Escandalosas até.

Tem problema?

Que dia eu começo?

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.