Missa de Sétimo Dia
Está morto há oito dias e enterrado há sete, o falecido. Aqui e ali, nos longos bancos de madeira, ainda caem as últimas lágrimas. A viúva escolhe o silêncio e as lentes escuras. Há quem fale com ela, lhe deseje força, mas ela não escuta, não quer escutar. O filho a abraça e acolhe as vozes que a mãe ignora. Emula na firmeza dos apertos de mão a força que falta à voz quando diz obrigado, deus abençoe. O padre, que nunca conheceu o morto, fala dele como se fossem velhos amigos, ressaltando suas virtudes e as bondades que cometeu em vida. Compara-o ao homem pregado na cruz. Nas fileiras de trás sentam-se quietos, em ordem de afinidade com o falecido:
- os amigos,
- a família próxima,
- a família distante,
- a família extendida,
- os conhecidos.
No fundo da igreja, perto da porta, do outro lado da rua, na esquina, cruzando a avenida, encostados num poste, sentados na mesa de um bar, abraçando os filhos, pitando um cigarro, virando um copinho, estão seus inimigos em vida — os que mais sentem sua falta.