Missiva

Leandro Vargas
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readNov 5, 2020

Olá

Você esta aí?

Você ainda pode me ouvir? Você quer me ouvir?

Eu lembro de quando nossas vozes eram tudo o que existia

Sem espaço ou limites. Sem início ou fim

Vida e morte existindo e se retroalimentando em um ciclo de cristal tão frágil que ao menor sinal de abalo se partiria em uma chuva fina e cortante

Sinto falta de ouvir sobre o sol que você admirava, aquecendo a grama em que deitava nas tardes de verão. Suas lembranças e sonhos nutriam minha alma seca e vazia.

Como você esta?

Queria saber que se encontra em plena ascensão, como um estrela cadente em sentido contrario, jamais despencando mas perfurando o véu do firmamento.

Você ouviu falar dos antigos? Daqueles velhos tolos cheios de regras tolas? Eles estão queimando. Queimando a si mesmos. Finalmente serão úteis.

Não me entenda mal, não quero dor ou caos, só quero o fluxo natural. O tempo não volta, mas se repete. Que possamos escolher melhor agora.

Você esta se adaptando bem? Eu confesso que as vezes desperto e ainda a vejo em pé, próxima aquela imensa janela de vitrais vestindo sua túnica de seda branca.

Tão branca

Tão leve como uma brisa em formato humanoide e igualmente sem consciência de medo ou ódio. Eu ainda odeio. O ódio me queima mais que o sol do meio-dia no foço dos condenados.

Eu queria ver você de novo.

Talvez eu durma sob a terra hoje. Talvez você sinta minhas palavras dirigidas até você desta maneira ‘eletrônica’ tão vulgar e venha me visitar.

Eu gostaria muito de te ver.

Como dizia aquele velho fantasma irritante: Vocês não podem se separar por muito tempo. São como carne e sangue.

Queria que fosse verdade.

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