Missiva
Olá
Você esta aí?
Você ainda pode me ouvir? Você quer me ouvir?
Eu lembro de quando nossas vozes eram tudo o que existia
Sem espaço ou limites. Sem início ou fim
Vida e morte existindo e se retroalimentando em um ciclo de cristal tão frágil que ao menor sinal de abalo se partiria em uma chuva fina e cortante
Sinto falta de ouvir sobre o sol que você admirava, aquecendo a grama em que deitava nas tardes de verão. Suas lembranças e sonhos nutriam minha alma seca e vazia.
Como você esta?
Queria saber que se encontra em plena ascensão, como um estrela cadente em sentido contrario, jamais despencando mas perfurando o véu do firmamento.
Você ouviu falar dos antigos? Daqueles velhos tolos cheios de regras tolas? Eles estão queimando. Queimando a si mesmos. Finalmente serão úteis.
Não me entenda mal, não quero dor ou caos, só quero o fluxo natural. O tempo não volta, mas se repete. Que possamos escolher melhor agora.
Você esta se adaptando bem? Eu confesso que as vezes desperto e ainda a vejo em pé, próxima aquela imensa janela de vitrais vestindo sua túnica de seda branca.
Tão branca
Tão leve como uma brisa em formato humanoide e igualmente sem consciência de medo ou ódio. Eu ainda odeio. O ódio me queima mais que o sol do meio-dia no foço dos condenados.
Eu queria ver você de novo.
Talvez eu durma sob a terra hoje. Talvez você sinta minhas palavras dirigidas até você desta maneira ‘eletrônica’ tão vulgar e venha me visitar.
Eu gostaria muito de te ver.
Como dizia aquele velho fantasma irritante: Vocês não podem se separar por muito tempo. São como carne e sangue.
Queria que fosse verdade.