Não é a Mesma Coisa

mariogarciajr
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readMay 11, 2022
Photo by Arnav Singhal on Unsplash

Quando eu era pequeno, adorava brincar de caubói. Ou bangue-bangue. É a mesma coisa. Tinha até uma pistola de brinquedo. Que fazia barulho de tiro e tudo. Mas mesmo assim, eu gritava: pá!… pá!… pá!… Talvez se eu fosse criança hoje gritasse: puco!… puco!… puco!… Sonoplastias também mudam com o tempo. Mas o que eu mais gostava de fazer quando era criança e brincava de caubói ou bangue-bangue, é a mesma coisa, não era de atirar e gritar pá! pá! pá! Era de morrer. As cenas de morte em filmes de caubói ou bangue-bangue, é a mesma coisa, eram as que mais me chamavam atenção. E eu as imitava. Colocava as mãos no lugar onde a bala penetrava, fazia cara de espanto, fisionomia de dor, fingia a perna cambaleando, corpo tombando, o grito mudo, a queda… fazia tudo. Como mandava o figurino. Lembrei disso agora e achei curioso. Fui uma criança que gostava de morrer. E hoje, quase velho, não sei mais como fazer. Vou precisar ensaiar um pouco. Não uma morte como quem leva um tiro. Como nos filmes de caubói ou bangue-bangue, é a mesma coisa. Talvez por falta de ar, doença de chagas, solidão ou atropelamento, sei lá. Só não quero que a morte me pegue de surpresa quando ela vier de fato. Não quero passar vergonha no meu último ato. Afinal, morrer de verdade não deve ser a mesma coisa que morrer brincando de caubói ou bangue-bangue.

--

--