Não é por troca
Se te dou a mão e me rouba o braço,
não, eu não me irrito.
Pegue logo o ombro,
o peito, o colo,
pegue todo o resto.
Pegue o que quiser,
realmente faço por gosto,
não é, nunca foi
e nem será por troca.
Eu me recomponho com o tempo,
me viro, eu me conheço.
Sei que me olhando no espelho,
sinto completo de um jeito
que se olhasse bem antes,
não me reconheceria.
Eu regenero minhas partes,
escrevendo poesia.
Renovo e entrego de novo,
abraço em noite fria.
Não deixe a mente vazia
ser mais uma oficina.
Se for pra criar-se algo,
que seja então com carinho,
calor de braços tocados,
ou na paz de estar sozinho.
Pensando nesse meu mundo,
num viajar avuado,
que mesmo estando parado,
de olhos fechados sentindo
que tudo o que doei,
eu fiz por algum motivo,
por sentir que precisava,
por me amar de verdade,
eu deixo partes serem soltas,
por um sorriso, por paz,
eu não espero “obrigado”,
não é favor, é bem mais.
Tudo o que levou,
pode guardar,
se não faz mais uso,
entregue pra outro,
o meu regenera.
Se precisar,
pode buscar por mais,
aqui terá sempre a mão,
pode levar o braço,
ombro, peito, o colo,
leva a letra que compus
mas ainda nem tem título,
leia, pensa, cuida, monta,
rabisca se quiser,
faça um refrão só seu,
repita quase em mantra
depois se deita,
desafinada canta,
dorme, sonha, seja plena,
mas depois se levanta.
A vida cobra a hora,
tempo ainda leva embora dores e sorrisos,
mas o que ficar te peço,
que não me devolva,
não faço por troca,
Faço porque preciso.