Nossa música reflete nossos tempos?

Tiago da Silva
Revista in-Cômoda
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2 min readJan 31, 2018

Em uma entrevista célebre, a cantora estadunidense Nina Simone (1933-2003) declarou que, para ela, a função de um artista é “refletir os tempos”. Ela, como cantora, se sentia responsável por cumprir esse papel através do seu trabalho.

“Como você pode ser um artista e não refletir os tempos?”

A música, de fato, pode refletir os tempos. Os hits podem ser o retrato de uma época.

Um professor de história bem disposto pode se utilizar de letras de música para mostrar a seus alunos as condições em que viviam as pessoas na época em que a letra foi concebida.

Regime Militar? Tensão durante a Guerra Fria? Luta pelos direitos das mulheres? Tudo pode ser registrado e ilustrado pela música. Tem sido assim.

Isso nos leva à pergunta: Que tempos as letras de hoje retratam? Ou: que cenário as letras atuais evidenciam?

As futuras gerações, quando consultarem os rankings de músicas mais tocadas no Brasil em 2018, imaginarão o que a nosso respeito? Segundo essas letras, como vivíamos, o que nos angustiava ou motivava, quais eram as nossas questões?

Observe que nossas músicas mais tocadas não mencionam nosso cenário político atual, nosso descontentamento com os governos, nosso medo ou (em alguns casos bizarros) expectativa por uma nova Ditadura. Nada disso. Todas essas questões passam despercebidas em um mar de letras que falam de… bundas. Isso mesmo, bundas.

Bundas que brincam e quicam. Rabetões que vão e vem. Bundas que batem no chão. Rabas que descem e sobem.

Será que nossa música está fracassando em sua missão de refletir os tempos? Ou realmente não há nada mais relevante sobre os dias de hoje para ser refletido, além de bundas?

Nina Simone ficaria chocada.

Se curtiu o texto (ou também está chocado), clique no ícone das bundinhas, digo, palminhas ;)

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Tiago da Silva
Revista in-Cômoda

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.