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O melhor está por vir, eu só não sei quando

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readApr 19, 2022

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Vez por outra histórias e pessoas como estas me acham pelo caminho, me pegam pela mão ou pulam em meus ouvidos.
Não que eu as procure, mas talvez por ter vivido algumas realidades (parecidas com esta que vou citar abaixo) as identifique mais facilmente.
Nunca vou saber.

Num sábado escutei gratuitamente de um mirrado guri de nove anos:

“Meu pai não quis cuidar de mim e me deixou com meu avô”.

Não soube o que responder e nem sequer consegui esboçar reação, parecia uma cena já assistida em algum filme de Almodóvar.

Sorte minha que quem estava ao meu lado (e que também tem uma história parecida com a deste menino) conseguiu mudar o rumo da prosa com aquele pequeno de feições entristecidas e de poucas palavras.

Eu emudeci.
Não sabia o que dizer.
Travei mesmo.

Lógico que vários pensamentos inundaram meu raciocínio e me deixaram com as emoções afloradas ali mesmo.
Mas não consegui externar nenhum deles.
O primeiro deles e talvez o mais latente fosse dizer:

“Guri, Eu também não tive pai presente e estou aqui”.

Mesmo assim me calei.
Não tive forças para dizer algo, ao mesmo tempo que várias memórias vieram à tona.

O segundo pensamento que não pude externar, foi que fazer filho realmente é fácil, basta a mãe natureza ser generosa e deixar a fertilidade como presente, mesmo que nem sempre bem aproveitado.

Mas ser PAI no sentido efetivo e completo da palavra talvez seja o que separe os homens dos meninos e lógico que não falo apenas de assistência financeira, que é o mínimo.

Mesmo não sendo pai e apenas pelo fato de não ter tido um de forma presente consigo entender aquilo que me fez falta por um tempo.

Falo de legado, de exemplos positivos, de ensinar, de participar, de tocar, de cuidar, de proteger, de estar e ser presente, ser carinhoso, ter autoridade, dar equilíbrio, criar laços de amizade e dar opções para que sua cria siga o caminho que desejar.

E mais que tudo: entender que qualquer ação sua será vista como exemplo.
E isso independe de dinheiro.
Depende de caráter.

Talvez agora tardiamente tenha achado as palavras que queria dizer ao guri:

“Garoto fique tranquilo, me disseram que o melhor está por vir”.

Só não sei quando.

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.