O que eu faço se?

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readNov 8, 2019

Quem paga o preço de ser sozinho?
De quem é a conta quando insisto não querer dividir?
Como é que eu posso me cobrar carinho?
Quem é que eu culpo por não poder sorrir?

O que eu faço pra não me dever tanto?
Como é que vou compartilhar se eu nem tenho?
Como respeito a solidão do meu canto?
Sem objetivo, como posso ter empenho?

Onde é que eu encontro o que ainda nem procuro?
Ainda sem pergunta, pra quem é que eu respondo?
Sendo areia movediça, como serei um porto seguro?
Com medo de ser alvo, onde é que me escondo?

Com tantos graus de miopia pra onde eu devo olhar?
Sem me enquadrar numa métrica, como fazer poesia?
Sendo apontado por muitos, quem é que vou me julgar?
A noite inteira chorando, como vou ser o “bom dia”?

Recebendo grosseria, como vou ser sutileza?
Tendo minhas asas cortadas, como vou chegar ao céu?
Com espelhos e olhos quebrados, onde verei a beleza?
Onde eternizo meus versos sem ter caneta e papel?

Quem vai cantar os meus sambas depois que perder meu ritmo?
Será que eu me quebro se resolver me encarar?
Como é que vou me gostar sabendo segredo íntimo?
Sem saber que estou perdido, como é que vou me encontrar?

Posso ser súdito do meu próprio reinado?
Vencer e ainda ser último na minha corrida?
Quando morrer o meu rei, quem serei coroado?
Depois de tanto sofrer, ainda posso ser vida?

Eu só sei que cansei de escrever na metade disso
Mas esse sou eu
Me canso, percebo, não volto, nem sigo
Me questiono todos os dias
Se estou e se devo seguir vivo.

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