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Pessoal e intransferível

Fabio Pires
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readJun 6, 2023

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Sempre foi fácil achar em letras de música algum sentido para nossas frustrações e remorsos.

O que muitas vezes nos ajuda a entrar de cabeça numa tristeza desmedida e em poucas a entender o que de fato aconteceu.

Usualmente, como uma camada espessa de neblina, não nos deixa enxergar o óbvio.

E assim, até aceitarmos a realidade, decisões são postergadas e como dizem hoje, resta apenas a humilhação como ato final.

Mas eu falava de música

A música, assim como toda arte, pode também ter como papel o estímulo à reflexão e ao mergulho nas profundezas do pensar de cada um.

Mesmo que seja em um pequeno borrão perdido no canto de uma pintura qualquer.

Em uma piada bem colocada numa peça de teatro.

No duplo sentido usado na literatura de cordel.

Ou mesmo nos dribles que Chico Buarque deu na ditadura escrevendo bem além da compreensão diminuta dos militares da época.

E este sentimento é seu

E este estímulo é unicamente vivido de maneira pessoal, ou seja, só você pode dizer o que te faz refletir.

Só você pode ter aquela emoção.

Em que parte do seu pensamento aquilo te toca.

Ou em que lugar a punhalada mais te machuca.

E também se é de fato uma punhalada ou se é no máximo um tapa com luva de pelica.

Daqueles que podem marcar e arder por alguns minutos, mas que logo passa.

Nas letras…

Nas letras de certas músicas podemos nos achar ou nos perder.

Nos identificamos ou perdemos a carteira.

Afogamos mágoas ou ditamos recomeços.

Pegamos um atalho ou acionamos o GPS (um mapa de papel também, serve).

Nelas entendemos que aquilo que sentimos se repete no âmago de cada um, mas que curiosamente este sentimento só nos pertence.

E este sentimento é daqueles que sequer contamos em terapia ou para um amigo fiel com bom ouvido.

Esta percepção é pessoal e intransferível.

Todos sentem o mesmo, mas este que escondo até de mim mesmo é só meu.

Texto de 2021.

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Fabio Pires
Revista in-Cômoda

Escritor com dois livros lançados, Editor, Redator, Tradutor e escreve na Impérios Sagrados, no Projeto C.O.V.A e na Revista In-Cômoda.