Poeta Objeto

mariogarciajr
Revista in-Cômoda
Published in
1 min readSep 23, 2019

A palavra
cai da nuvem,
desanuvia-se,
desnubla-se,
desnuda em si
e segue.

A palavra venta,
assanha meus pensamentos,
alisa meus sentimentos,
traduz o meu momento
e paira no ar.

A palavra dá de aguar,
lambe minha orelha,
arrepia todo o pelo da pele,
esfria a espinha
e para meu ar.

A palavra esquenta,
roça meu sexo,
molha minhas coxas,
suga meu gozo
e engole minha língua.

Mas é só eu pegar a caneta
e agarrar um pedaço de papel
que a palavra delira,
se finge de doida,
foge mundo afora
até nunca mais se ver.

E não adianta tentar pegar.

Tem palavra que não gosta
de ficar presa,
só aparece quando deseja
está sempre voando, sem lar,
sem pousar, sem amar.

E agora que o vazio
me acompanha,
é a dor que me espera.
E uma certeza me apanha:
aquela palavra perversa
a uma hora dessas
já está a seduzir
outro poeta.

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