Professor
Vestiário. Time de futebol comemora a vitória fazendo um samba. O clima é de festa: jogadores bebem cerveja e dançam com Marias-chuteiras. De repente, vestindo um moletom de treinador, chega o Professor Pasquale dando bronca:
— Posso saber por que essa farra?
O samba para. Os jogadores se olham, confusos. Um deles responde:
— Ué, professor. Nosso time acabou de ser campeão. 3 a 0, fora o baile. Não era pra comemorar?
— E foi 3 a 0 na casa deles, hein? Deu até pena a ver a cara de choro da torcida.
— Quem vai chorar agora é o cavaco. Simbora, Oliveira.
O samba recomeça e as Marias-chuteiras voltam a dançar. Professor Pasquale dá um soco no armário, assustando todo mundo com o barulho. Depois, fala ainda mais alto:
— Alguém pode me explicar o que aconteceu lá no campo?
— Goleada nossa?
— Vexame deles?
— Sabe o que é vexame, Everardo? Vexame é aquela entrevista que vocês deram.
— Como assim, professor?
— “Nós lutou pelo título”? “A gente jogamos com raça”? Nossa defesa foi a menas vazada”?… porra, cês tão querendo me derrubar?
Os jogadores escutam o sermão de cabeça baixa, envergonhados. Pasquale pega uma prancheta e mostra uns exercícios desenhados.
— Quantas vezes a gente treinou concordância, conjugação verbal, ortografia, aí vocês me aprontam uma dessas?
— Mas professor, o título é nosso! Por que tanta raiva?
— Explica como é esse por que, Everardo: é junto? Separado? Tem acento? Não tem acento?
— Aí depende, professor. Se chegar cedo tem assento. Se não, tem que ver o jogo em pé mesmo.
— Tá vendo? É por isso!
— Calma, professor. Que é que a gente faz pra melhorar então?
— Leitura! Muita leitura. Aliás, cês tão lendo alguma coisa?
Jogador mostra uma Bíblia pro técnico e responde:
— Eu tô lendo a palavra, professor. O problema é que a palavra tem um monte de palavra, uns nome difícil. Daí eu não entendo nada.
— Ah, professor, e desde quando jogador tem que ler pra se dar bem?
— Claro que tem! Olha o Neymar, por exemplo. Não leu o contrato com o Barcelona, se enrolou todo, e agora tá aí fugindo do fisco.
— Mas ele não leu porque tava em espanhol.
— Presta atenção, rapá! Espanhol é igual português, só muda o sotaque.
Decepcionado com o que ouve, Professor Pasquale dá um suspiro. Depois, fala apontando para uma das Marias-chuteiras:
— Pensa comigo: vai que ela aparece dizendo que tá grávida? E aí? Ninguém vai querer ler o teste de DNA?
Nessa hora, os jogadores olham desconfiados para as duas belas garotas. Elas se levantam e vão embora do vestiário. Uma delas comenta:
— Estraga prazer!
Professor Pasquale continua:
— Pessoal, não precisa entrar na Academia Brasileira de Letras não. Só quero o mínimo de cuidado. Será que é impossível dar uma entrevista sem falar nenhuma bobagem?
— Aí o senhor já quer demais, né professor? — responde Felipe Melo.