Relatos de um parto

Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readSep 15, 2020

22 de agosto. 39 semanas, 2 dias e uma vida inteira de espera por aquele momento. Um momento que foi planejado, conversado, preparado, aguardado e imaginado. Mas a prática sempre teima em surpreender a teoria. Uma coisa é ver, estudar, ler, assistir. A outra é sentir.

Bastou minha esposa começar a ter contrações mais fortes para, rapidamente, transformar um coração de pedra em manteiga. Percebi que seria aquele o dia que nossa pequena escolheu para vir ao mundo.

Finalmente chegava o dia de cortar o cordão umbilical. Dia de deixar de conversar com minha filha através da barriga da minha esposa. Dia de começar oficialmente a trocar os dias pelas noites, de inverter as prioridades e seguir um novo caminho na vida. Foi o último dia da gestação e o primeiro de uma nova e desafiadora fase da vida.

Eram 6 horas da manhã quando as dores foram aumentando e o espaço de tempo diminuindo. Rapidamente minha esposa não conseguia mais nem levantar, só gemer. Corremos para o hospital. Nesse caso, corremos mesmo. Parecia cena de filme: realizando ultrapassagens e avançando os sinais. Peço até desculpas se tranquei algum carro, mas, naquele momento, nada era mais importante do que chegar no hospital o quanto antes.

Menos de 15 minutos depois já estávamos na sala de parto. Enquanto minha esposa sentia dores e segurava a minha mão, eu segurava o choro. A dilatação aumentava, a ansiedade também. Entramos na piscina e, quando Alceu Valença cantou, “Anunciação” e a letra da música falava “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais” eu jurava que ela vinha. Já dava para ver um pouco a cabecinha, mas a Mariana teimava em curtir aqueles últimos momentinhos dentro da mãe. Talvez fosse medo do que ia encontrar aqui fora, não sei.

E, de repente, às 13:45, um choro se juntou com outro. E outro. E outro. Nossa filhota nasceu com 46cm e 3,170kg. Se antes mamãe carregava na barriga, agora eu posso carregar nos braços, nas costas, na cacunda. Seja bem-vinda, filha. Logo no seu primeiro dia, você já me proporcionou o dia mais feliz da minha vida.

--

--

Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda

Redator, publicitário, jogador e metido a escritor. Autor do livro de crônicas: Blá Blá Blá.