Silêncio

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
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2 min readApr 22, 2020
Photo by Ocean Biggshott on Unsplash

Mesmo quando se escreve a realidade, eu posso num verso botar um palhaço, eu posso falar do que faço e no fim dizer que foi só fantasia. Eu me vejo seguro quando mascaro o que sinto, mesmo sabendo que às vezes eu minto pra mim, eu vou ser poeta mais algumas linhas.

Do meu canto de mundo, ainda não acho tão fácil escrever poesia.

Sempre me perco no silêncio, acabo acreditando que terei um bom dia e mesmo que tenham sorrisos, eu lembro os motivos, eu lembro o porque chamei de remédio, de ser curativo pra ferida ainda aberta, de quando isso tudo era minha terapia.

Confesso que já fiz por medo de ser descoberto, mas com o tempo entendi que pra isso preciso primeiro ser entendido. Então hoje faço por vício, percebo que sou cada vez mais explícito e que mesmo assim não passo de um cisco caído nos olhos de alguém. E que esse cisco que chamam de dor, não é um por cento do que queria ter escrito. Que mesmo quando eu tento falar de amor, minha letra se esconde quase que em improviso, do tanto de vezes que errei por chorar demais.

As noites em claro olhando pro teto, vendo letras caindo em meu rosto, o corpo doendo por ser sofrimento, sentindo na boca o salgado do gosto, mar, afogado de novo em meu mar, e em volta eu conto nos dedos quem está disposto a vir me salvar.

Um, dois, uma meia dúzia de três ou quatro. É fácil dizer se importar quando na corda não se vê um nó, mas sim um laço. Presente, tá aqui seu presente, mais uma poesia de um poeta que sente, do palhaço que ninguém entende, do riso sem branco nos dentes, do final do texto contente rimando sabor. Metáfora fora de contexto, poesia sem métrica, página colorida mesmo sem cor. Da roleta russa, medo de barata, da tal referência que ninguém pegou. Do cansaço pelo excesso, de estar longe estando tão perto, insistir em ser descoberto, de gritar por “SOCORRO” e entenderem “AMOR”.

Abri mão de ser quem eu era, quando decidi escrever poesia. Prazer, esse sou eu outra vez, mas não se preocupem. Não estou pra ser entendido, muito obrigado pelos minutos, mais uma vez obrigado pelo ouvido.

Ainda vou ser grito, mesmo depois de mudo.

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