Sonhos & Memórias Mortas

Leandro Vargas
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readNov 9, 2020
Photo by Jr Korpa on Unsplash

Eu já vivi muitas vidas. Eu já fui muitas coisas.

Chorei como a criança doente, briguei como o adolescente confuso, desacreditei de mim mesmo como o adulto frustrado.

Já fui ator, enfermeiro, escritor, dançarino, professor, balconista, vendedor, bom ouvinte, inventor, coveiro, consolador

Já senti mais dor e prazer do que a maioria das pessoas. Não por ser melhor ou pior que elas, mas por ter vivido mais tempo. O tempo alias é a única coisa constante.

Eu me lembro de beber um Lillet, sentado em uma das cadeiras na calçada em frente a um antigo e simpático bar francês, sob um guarda-sol colorido feito de um tecido muito fino que permitia o sol me tocar de leve com seu calor mas ao mesmo tempo me protegia de seu olhar mais incisivo.

As vezes eu não sei ao certo quando é memória ou quando é sonho. Quando estou vivendo ou dormindo. Posso perfeitamente agora estar digitando no mundo etéreo da minha mente e acordar daqui a pouco deixando o texto incompleto.

O tempo existe realmente ou ele só se faz presente devido a perspectiva de quem o observa? Como a beleza, estaria o tempo nos olhos de quem o vê?

Eu costumava conversar sobre isso com Suzanne e Tarcísio. Nos tempos em que as ruas tinham menos carros e pessoas. Menos vozes e conflitos vazios. Sinto falta deles. O tempo (ou minha ilusão dele) os levou de mim. Ou quem sabe eu apenas acordei e os perdi, como perdi a maioria dos detalhes dos sonhos que tive.

Lembrei agora das palavras do meu velho amigo Byron:

“Eu tive um sonho que não era em todo um sonho
O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas
Vagueavam escuras pelo espaço eterno…”

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