Tatuagem de palhaço

Rodrigo Santiago
Revista in-Cômoda
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2 min readJan 9, 2019

Blitz policial na estrada. Carro se aproxima até parar. Motorista abaixa o vidro e um policial fala com tom autoritário:

— Documento do veículo e habilitação.

— Só um minuto.

Quando o motorista estende o braço pra entregar os documentos, o policial percebe que ele tem uma tatuagem do Tiririca no braço.

— O senhor desce do carro, faz favor.

— Algum problema?

O policial responde apenas chamando com a mão. Desconfiado, o motorista abre a porta do carro. Antes de sair totalmente, ele leva uma coronhada na cabeça e vai ao chão.

— Que porra é essa?

Enfurecido, o policial levanta o motorista pela gola da camisa e aponta para a tatuagem do Tiririca:

— Eu é que pergunto! Que porra é essa?

— É só uma tatuagem.

O policial dá um soco no estômago do motorista. Depois continua:

— Tatuagem de palhaço, você quis dizer, né?

— Mas é o Tiririca!

— Foda-se, Tiririca também é palhaço!

— Senhor, pelo amor de Deus! Eu sei que tem esse história de quem tatua palhaço já matou policial, mas eu juro que nunca matei uma mosca!

— Claro que não matou. Dá pra ver na sua cara de trouxa.

— Então por que essa violência?

Policial fica calado. Depois, com insegurança, faz uma confidência:

— Eu tenho trauma de palhaço.

Ainda se recuperando do soco, motorista fica surpreso. Então pergunta:

— Até do Tiririca?

— De qualquer um! Tiririca, Carequinha, Patati, Patatá, Bozo…

— Bozo do SBT?

— Não, do PSL.

— Entendo. E esse trauma de palhaço, como começou?

— Eu tinha 5 anos. Fui ao circo com meus pais e me perdi no meio da multidão. Aí um palhaço me sequestrou e me manteve preso no camarim durante décadas.

— Nossa, que horror!

— Sim, ele era terrível. Vivia botando aquelas almofadas de pêido pra eu sentar. Sem falar daquele girassol gigante que borrifava água… ele sempre me acordava com um jato molhando minha cara.

— E como foi que você escapou?

— A única coisa boa nessa vida de circo é que a gente aprende uns truques de mágica. Abrir algemas foi um deles.

— Pô, legal. Ensina aí como faz.

— Claro.

Policial coloca as algemas nos punhos do motorista.

— Tá. E agora?

— E agora você cala a boca e entra na viatura.

— Como assim?

— Eu falei cala a boca!

Policial dá outra coronhada no motorista, que se levanta e entra na viatura. Dentro do carro, o policial continua:

— Pensou que eu não ia te reconhecer, Tirulipa?

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Rodrigo Santiago
Revista in-Cômoda

Redator publicitário, escritor e criador do Poucas&Bobas: página de contos, crônicas e esquetes cômicas.