tenho medo de cachorro
acho que é pela falta
cresci numa casa sem cachorros
e essa ausência me petrifica
é assim no amor
não sei lidar com o que não tive contato
é avassalador e ao mesmo tempo
tão simples
são os dentes que me assustam
os caninos
tão afiados e pontudos
os donos insistem em dizer que
eles não mordem
as pessoas também não
e eu custo a acreditar
apesar de querer, não consigo
julgar é tão mais fácil
cair no automatismo de criticar
a todo custo
nunca se preocupar
em olhar para dentro
pode ser ensurdecedor
desse mal eu não bebo
me afogo apenas em minha sombra
e me desespero na inconsistência
do meu autoamor
sou viesada para lidar com os ciclos
da minha libido e da minha ânsia
em querer ser mais de uma
enquanto me perco na apatia
de achar que sou única
com meus problemas
minha sombra me expulsa de mim mesma
meu orgulho impede o medo de me dominar
cotidianamente, me esforço
para me aceitar, me acolher e me amar
autocobrança é minha melhor forma
de sabotagem
cafuné é minha melhor munição
meu abraço e meu aconchego
são primos e ímpares
conquistas douradas de uma insistência
cuja raiz eu não sei o nome,
nem a procedência, mas sinto
que sou grata, pela minha distopia
sempre acabar em colisão para um novo
hobby
quanto mais adentro, mais me assusto
e menos valorizo o quanto eu olho
caminho sem perceber o quão bravo é
caminhar
porque é tão mais fácil desvalorizar
o que já sei
e tão mais bonito olhar o outro e admirar
o que não conheço
será que em algum momento me amarei
o suficiente, para ser suficiente
para mim?