Um dia me permito

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readFeb 4, 2020
Photo by Tom Pumford on Unsplash

Na garganta ficou o grito.

Do olho,
o choro ainda nem desceu.

Minha lágrima seca rasgando meu rosto,
meu choro é jóia,
pedra de cristal.

Coisa rara de se ver,
privilégio de sentir.

Guardo um tesouro no peito
Esconder o choro no sorrir.

Mesmo sabendo o quanto isso dói
Ainda guardo o que sinto

Por saber que não mereço
Eu não fiz nada pra ser assim
Às vezes não me acho digno de mim

Já tentei abreviar meu caminho,
Evitei com medo do fim

Me poupei por amar os outros
Me furar pode vazar meu choro
E sei que o mundo não está pronto pra isso

Se saíssem em lágrimas tudo o que tenho
O dilúvio de Noé seria pequeno
mudaria o planeta todo
Não seria mais Terra,
Chamaria planeta choro
Oceano Único
O começo de uma nova era.

Não viveria ninguém sem saber nadar
Tudo em mar revolto
Por isso evito chorar

Então me seguro
Ainda quero mais um pouco

Quero poder sentir um beijo de filha em minha face
Acordar amanhã de manha antes do Sol
Ouvir o galo cantar,
Curtir mais um samba na laje
aproveitar outro dia por completo
Eu Quero sorrir de verdade,
não esconder o que eu guardo aqui dentro
Ter meus sentimentos reais.

Um dia ainda me permito ser pranto.
Mas não hoje,
Não por enquanto.

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