Vamos lá, dedos, escrevam
Vamos lá, dedos, escrevam. O Medium é cruel e seu algoritmo mais cruel ainda. Não que este perfil seja tão importante pra mim como já foi um dia, mas, porra, o algoritmo te joga lá pra puta que te pariu se você fica fora da jogada por uns dias. Ou semanas. Ou meses. Ingrato.
Ingrato, aliás, é uma palavra que a minha vó usa muito. E em contextos que às vezes não faziam muito sentido pra mim na infância. Tipo, “Que tempo ingrato”. Por que, exatamente, o clima deveria ter gratidão a você, minha vó amada? “Que gripe ingrata”. Por que, vó?
Enfim, dedos, batam nas teclas com a velocidade do gatinho aquele do meme e deixem aqui pelo menos 3 minutos de leitura medíocre e minimamente útil antes de clicarem em Sign out.
Porra, falando em partir, havia um tempo em que tinha gente que eu shipava demais por aqui no Medium — e ainda os sigo e tal — mas sua produção caiu.
Não em qualidade mas em volume. Acho que é natural. Devem estar em uma fase mais feliz da vida e, por isso mesmo, escrevendo menos.
Quer dizer, não que seja uma regra.
De toda forma, é sabido que a felicidade é pouco producente quando se trata de literatura. Música também.
Lembra da Adele sofredora fodida, infeliz pra caralho? Grandes canções! Aí achou alguém, acho que teve um filho (teve?) e aí, porra, nunca mais uma música que prestasse.
Deixa ver, o que mais. Eu comecei a ler ontem e acabei hoje um livro do Josué Guimarães, Enquanto a noite não chega, cuja premissa é:
Em uma cidade quase fantasma, um casal de idosos espera pela morte rememorando tempos passados.
Mas não a esperam sozinhos. Além deles, na cidade, ficou pra trás um coveiro que jurou não ir embora até dar um enterro digno ao último morador local.
Ele também já está velho e fodido e as covas já estão cavadas. Ele só espera a morte dos dois velhinhos para poder seguir seu rumo, mas eles vão NÃO morrendo e ele vai NÃO indo embora… e o tempo vai passando, e ele mesmo não sabe quanta força vai sobrar no seu corpo velho se eles demorarem demais pra morrer.
É um impasse. É angustiante. E é ao mesmo tempo apenas dois velhos sentados tomando chá com um outro velho, todos escolhendo com muito cuidado suas palavras, porque a situação é insustentável. É meu tipo de livro. Recomendo.
Ah, essa humilde dica de livro tinha a pretensão de dar a “utilidade” do texto referida lá no começo. Acho que a outra promessa, a da mediocridade, já foi cumprida e devemos ter atingido já a meta dos 3 minutos de leitura. Então, tchau.
(Viu, Medium, como eu tô tentando, filho da puta? Eu tô tentando escrever com uma regularidade digna.)
Ah, Marcelo Bolzan Lana: conhece esse livro? É muito a tua cara. E isso é um elogio porque estamos falando do Josué Guimarães. Vejo muitos paralelos na produção de vocês dois :)
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