Vamos lá, dedos, escrevam

Tiago da Silva
Revista in-Cômoda
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3 min readNov 11, 2019

Vamos lá, dedos, escrevam. O Medium é cruel e seu algoritmo mais cruel ainda. Não que este perfil seja tão importante pra mim como já foi um dia, mas, porra, o algoritmo te joga lá pra puta que te pariu se você fica fora da jogada por uns dias. Ou semanas. Ou meses. Ingrato.

Ingrato, aliás, é uma palavra que a minha vó usa muito. E em contextos que às vezes não faziam muito sentido pra mim na infância. Tipo, “Que tempo ingrato”. Por que, exatamente, o clima deveria ter gratidão a você, minha vó amada? “Que gripe ingrata”. Por que, vó?

tac tac tac tac

Enfim, dedos, batam nas teclas com a velocidade do gatinho aquele do meme e deixem aqui pelo menos 3 minutos de leitura medíocre e minimamente útil antes de clicarem em Sign out.

Escritores tristes, cadê vocês?

Porra, falando em partir, havia um tempo em que tinha gente que eu shipava demais por aqui no Medium — e ainda os sigo e tal — mas sua produção caiu.

Não em qualidade mas em volume. Acho que é natural. Devem estar em uma fase mais feliz da vida e, por isso mesmo, escrevendo menos.

Quer dizer, não que seja uma regra.

De toda forma, é sabido que a felicidade é pouco producente quando se trata de literatura. Música também.

Lembra da Adele sofredora fodida, infeliz pra caralho? Grandes canções! Aí achou alguém, acho que teve um filho (teve?) e aí, porra, nunca mais uma música que prestasse.

É da L&PM Pocket, então cabe no bolso.

Deixa ver, o que mais. Eu comecei a ler ontem e acabei hoje um livro do Josué Guimarães, Enquanto a noite não chega, cuja premissa é:

Em uma cidade quase fantasma, um casal de idosos espera pela morte rememorando tempos passados.

Mas não a esperam sozinhos. Além deles, na cidade, ficou pra trás um coveiro que jurou não ir embora até dar um enterro digno ao último morador local.

Ele também já está velho e fodido e as covas já estão cavadas. Ele só espera a morte dos dois velhinhos para poder seguir seu rumo, mas eles vão NÃO morrendo e ele vai NÃO indo embora… e o tempo vai passando, e ele mesmo não sabe quanta força vai sobrar no seu corpo velho se eles demorarem demais pra morrer.

É um impasse. É angustiante. E é ao mesmo tempo apenas dois velhos sentados tomando chá com um outro velho, todos escolhendo com muito cuidado suas palavras, porque a situação é insustentável. É meu tipo de livro. Recomendo.

Ah, essa humilde dica de livro tinha a pretensão de dar a “utilidade” do texto referida lá no começo. Acho que a outra promessa, a da mediocridade, já foi cumprida e devemos ter atingido já a meta dos 3 minutos de leitura. Então, tchau.

(Viu, Medium, como eu tô tentando, filho da puta? Eu tô tentando escrever com uma regularidade digna.)

Ah, Marcelo Bolzan Lana: conhece esse livro? É muito a tua cara. E isso é um elogio porque estamos falando do Josué Guimarães. Vejo muitos paralelos na produção de vocês dois :)

Se você gostou do texto, dê a ele de 1 a 50 aplausos clicando nas mãozinhas no final do texto ou ao lado dele. Quanto mais aplausos, mais as histórias se destacam.

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Tiago da Silva
Revista in-Cômoda

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.