Velórios são melhores que festas

Tiago da Silva
Revista in-Cômoda
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2 min readJan 2, 2018

Antes de tudo, vamos ao conceito atual de “festa” estabelecendo-o como uma reunião de pessoas com pouca ou nenhuma afinidade, ouvindo música de péssima qualidade enquanto trocam informações fúteis e consomem grandes quantidades de álcool. Dito isso…

Hoje conversei com o tio de um amigo. “O tio de um amigo” normalmente é um cara muito chato, contando piadas velhas, calçando crocs e falando merda sobre política e religião. Mas esse tio de um amigo não era assim. Era diferente.

Em dado ponto da conversa discutíamos sobre como situações inusitadas e delicadas podem, se soubermos aprender com elas, trazer ótimas reflexões e, inclusive, mudanças.

Foi aí que o cara disparou, assim, a queima roupa:

“O que é melhor: ir a um velório ou a uma festa? Ao velório, é claro, porque é lá que tu aprende alguma coisa!”

Putamerda que o cara tinha razão!

Você volta de uma festa exatamente como foi. Na verdade, com menos grana e talvez um pouco bêbado. Mas a festa não muda sua vida em nada, não muda as suas perspectivas, não te faz olhar diferente pra nada — muito menos pra vida.

Mas é exatamente essa a magia que ocorre no velório: ele coloca as coisas em perspectiva.

Diante da morte e sua inevitabilidade (inclusive a inevitabilidade da nossa própria morte!) somos forçados a rever prioridades, a repensar atitudes, fazer um autoexame de como temos vivido até aqui. Nos vemos forçados, inclusive, a agradecer.

Você pode sair uma pessoa melhor de um velório. Mas de uma festa você volta sempre exatamente o mesmo.

É claro que ninguém gosta de perder familiares e amigos, é doloroso. Mas, sendo a morte a única certeza que temos na vida, convém que seus ritos de despedida cumpram uma função além da mera formalidade.

Que possamos voltar melhores de cada velório a que comparecermos. Que cada morte traga algo de bom, como tudo na vida traz. Sempre.

Bons velórios pra você!

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Tiago da Silva
Revista in-Cômoda

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.