Velho feiticeiro
O peso que cai na cadeira esgarçada do bar
É a labuta suada, acumulada, que faz a vida girar
O gole engole a grana abreviada
Uma lembrança guardada no bolso de fronte corrói, mas espanta a mortalha
O samba na mente, melhor que o batente, faz os dedos tamborilhar
A sombra imponente da amendoeira, refreia o sol e a canseira e ilude essa raça que pensa que pode sonhar
A moça enrugada, desesperançada, ancora no fundo do salão
A unha escarlate enforca o conhaque e o remorso em destaque dispara um peito em resignação
A saudade avança e não se descamba, feito bêbado sedento
No bolso da calça o abraço partido estraçalha e divide espaço com um velho isqueiro
Fagulha que faz a chama, dura tão breve quanto a esperança que se espalha no canto do cinzeiro
Domingo se esvai e o bar, vazio, segue sendo este velho feiticeiro
10-11-2023
01h02