Vende-se Esta Casa

Isac Chagas
Revista in-Cômoda
Published in
3 min readJan 1, 2021

“Won’t give up
Won’t give in
Take everything we had
And let the new begin.”

Let the New Begin” — CHPTRS

Quando eu me lembro da — outrora pequena — casa na qual eu cresci, não há como eu não me lembrar de um acontecimento específico, tão trivial, mas precioso o suficiente para que a lembrança dele jamais fosse apagada pelos anos que sucederam: quando o meu pai estava construindo os quartos do andar de cima, me recordo dele me pegando no colo, com muito cuidado, e erguendo o meu corpo exíguo, de forma com que eu conseguisse passar a minha pequena mão no teto, que carecia de reboco. Naquele momento, eu poderia ser capaz de dizer que eu estava no topo do mundo.

O fato de você possuir uma residência secular, lar de memórias imortalizadas, não significa que, necessariamente, ela lhe pertencerá pro resto da sua vida — até mesmo porque nada nesta vida é propriamente nosso. Depois de um tempo, apesar de vivermos em um determinado lugar, não significa que ainda pertencemos a ele. Muito que bem: fiz o trabalho interno de desprendimento psicológico, pesquisei uma gráfica, no Google, encomendei uma placa com letras garrafais, na qual solicitei que escrevessem: vende-se esta casa.

O medo do novo e o fato de eu não conseguir deter total controle de uma situação, sempre me paralisaram. Por um lado, sempre achei que, sempre quando eu precisasse tomar uma decisão, ou começar algo novo, eu precisaria, obrigatoriamente, me certificar dos riscos de todas as opções disponíveis e pesquisar as melhores estratégias para alcançar o objetivo; por outro lado, eu tinha a certeza de que o ato de pensar demais só dificultava ainda mais as coisas.

Não há problema algum em despender horas a fio, pesquisando sobre a melhor maneira de fazer algo e até mesmo perguntando, para pessoas que já estiveram na mesma situação que você, como proceder. Entretanto, até mesmo as experiências e ações mais recorrentes se reservam o direito da singularidade: não existe uma maneira certa de começar algo, principalmente se você nunca começou algo parecido — tampouco, existe uma maneira certa de fazer as coisas. Não há receitas ou fórmulas quanto a isto, mas, se eu puder dar um conselho, diria que o melhor jeito de começar algo é, de fato, começando.

Durante os meus vinte e cinco anos, sempre residi no mesmo lugar. Eu não poderia ser ingênuo de imaginar que eu nunca iria precisar me preocupar, em algum momento da minha vida, em procurar outra moradia. Você pode se preparar o quanto achar necessário, e até mesmo adiar, mas, uma hora você precisa começar pra valer.

Neste exato momento, enquanto você confabula sobre seus próximos passos, existe alguém começando a aprender inglês, a tocar violão, a investir na bolsa, a trocar de emprego, a tentar a vida na cidade grande, a fazer terapia, um relacionamento, a enfrentar seus próprios medos, a pôr fim em ciclos doentios ou até mesmo a escrever em um blog. Eu não posso garantir que estas pessoas irão obter êxito em suas empreitadas pessoais, mas eu posso dizer, com absoluta certeza, que todas elas estão no caminho certo pelo simples fato de terem feito algo essencial, que deve ser feito, indiscutivelmente, no início de todo e qualquer projeto: começar.

Boa sorte!

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Isac Chagas
Revista in-Cômoda

Decidi revisitar cada uma das eras da minha vida e irei documentar cada etapa desta minha jornada através dos meus textos. Cê me acompanha nesta aventura? :)