Vortigern
“And I wonder about his insights
It’s like his thoughts are too big for his size
He’s been taken, where I don’t know
Off he goes with his perfectly unkept hope
There he goes.”
“Off He Goes” — Pearl Jam
Pedra sobre pedra. Dia após dia. É assim que tem que ser.
Concentro todos os meus esforços na árdua missão de construir uma torre. Preciso deixá-la o mais alta possível. Não alta o suficiente para alcançar o céu, assim como a Torre de Babel, mas alta o suficiente para deter a hegemonia do Império. Entretanto, não importa o quão empenhado eu esteja em construir a estrutura mais imponente de todo o reino: quando cai a noite, inevitavelmente, a torre vem abaixo, restando apenas escombros, poeira e uma terrível sensação de impotência.
Eu gostaria de ser, aos 25, o homem que eu prometi pra mim mesmo que eu seria, quando eu tinha 7 anos. Sou a prova viva de que a soberba e a predisposição à perseguição do glamour máximo que você pode obter através de suas escolhas podem te proporcionar, te aprisionam e te torna escravo de um juízo de valor deturpado; sistematicamente, você vai estar na rota do fracasso. Sou uma combinação de dezenas de milhares de aspirações vaidosas e de nenhum talento para gerenciar minha vida: vivo as consequências de escolhas que sequer fiz pra mim. Sinto como se estivesse condenado a viver o resto dos meus dias no mesmo lugar, e com as mesmas perspectivas.
Sol a pino. Minha face está ruborizada devido ao calor e ao esforço realizado para manusear as pedras. À medida que preparo o cimento, misturando a areia juntamente com a substância pastosa, reflito sobre o quão autopiedosa é a visão que tenho sobre mim mesmo: honestamente, eu não sei se estou pronto para o mundo real. O venatio requer sagacidade, pensar e agir rápido, e autossuficiência: é tão inconcebível a ideia de desenvolver tais competências e habilidades, uma vez que sou incapaz de me imaginar entrando no Coliseu.
Tudo o que eu tenho são as minhas convicções. Da mesma maneira que sei que existe algo, que está além da minha compreensão, que me impossibilita de sair do lugar, também sei que há uma explicação plausível para o desabamento diário da torre, ao anoitecer: não há razão para despender esforço físico e emocional em algo que não faz sentido e que, invariavelmente, não irá trazer um resultado diferente do esperado. Não posso aceitar, levianamente, viver uma vida que não foi feita pra mim. O preço que se paga por ser alguém que você não é, é alto demais.
Eu preciso libertar de mim mesmo antes que a Torre de Vortigern desmorone outra vez.