Zarmdiell

Leandro Vargas
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readDec 23, 2020

Pele de porcelana branca. Sim pele. Fria, lisa, brilhante. Os finos e compridos dedos terminavam em pontiagudas unhas transparentes como vidro. Como pequenos rios ramificados as veias visíveis através da pele contrastavam com a ausência de vida daqueles olhos. A boca no entanto, quente e úmida. O beijo faminto tinha gosto de sangue.

Eu escutei música enquanto as sombras tomavam conta da minha mente. As sombras dançavam ao meu redor. É possível morrer de esperança? Eu tinha alguma esperança? Eu tinha tudo naquele instante. Delírios de um espírito liberto das amarras de um corpo. Eu voei.

Me leve com você. Me leve através de você. Quero fazer parte dos seus sonhos e pecados. Sua carne, seu sangue, eu sou parte do seu esplendor e de sua miséria. Pedaços iguais de uma moeda de prata partida. E se eu puder somente viver enquanto as horas param e o tempo morre? Animação suspensa em um mundo acelerado. Eu viveria pra sempre em seus vestígios?

Sem a bússola quebrada ou o espelho acusador, nossos mundos se entrelaçariam sem receios. Dragões na jaquetas de couro, o asfalto queimando sob as rodas dos cavaleiros de aço. Brisa na sacada onde você, delicada assassina espiritual me descortinou seus sonhos. Se eu fechar meus olhos posso sentir o cheiro dos lírios e da chuva.

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