Conselhos para novos escritores de monografia — Parte 2

Dicas práticas para uma escrita mais fluida

Ana Letícia Pastore
Revista Jabuticaba
5 min readApr 26, 2019

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A inspiração para os nomes dos dois textos (parte 1) que sintetizam as dicas para estudantes prestes a completarem mais um ciclo acadêmico surgiu do livro escrito por Robert Boice, com título em inglês “Advice for New Faculty Members: Nihil Nimus”, indicado pela professora Nayara Peneda Tozei em seu blog. O livro reúne uma série de dicas práticas testadas empiricamente para professores e acadêmicos que desejam uma escrita mais fluida, com menos picos de escrita compulsória e, consequentemente, menos sofrimento. Em poucas palavras, as dicas são formas de manter a constância e a moderação durante o processo de produção acadêmica. Tentarei resumi-las nos próximos parágrafos.

Capa do livro Advice for New Faculty Members: Nihil Nimus, de Robert Boice.

O primeiro ponto abordado pelo autor é a ideia romântica do escritor solitário que tem um pico de criatividade e consegue completar o seu trabalho em pouco tempo. Segundo ele, esse ideal de escrita reproduzido entre os acadêmicos, associados às altas demandas e a busca pelo perfeccionismo, leva ao desinteresse pela escrita, já que os longos períodos de espera pelo “momento certo” terminam em uma escrita obrigatória sem tempo para preparação e reflexão. Então, vamos a algumas das dicas práticas citadas no livro:

1. Pratique a espera ativa

Antes de partir para o momento da escrita, o autor explica a importância de evitar a espera passiva, aquela em que esperamos o prazo final se aproximar aguardando o momento certo para escrever. Tendo em mente que o momento pode nunca chegar, é importante se preparar para a escrita fazendo notas, criando diagramas e escrevendo livremente. Comece tirando entre cinco e dez minutos diários e faça notas ou até mesmo gráficos e desenhos. Ter uma visão clara sobre o conteúdo a ser trabalhado é um importante passo para a próxima etapa.

2. Comece a escrever cedo, antes de se sentir preparado

Começar a escrever cedo não é fácil, até que se torne um hábito. Para superar esse ponto crucial no processo de escrita, algumas ações podem ser praticadas, a saber: 1) falar em voz alta o que será escrito; 2) ler em voz alta o que já foi escrito; 3) fazer anotações livres. Os primeiros parágrafos podem parecer vagos e ambíguos, mas devem ser vistos como primeiros passos úteis, imagine que somente a partir deles será possível estruturar um texto bem fundamentado. Seja tolerante e menos perfeccionista, pratique a escrita livre, anote o que vier à mente, não se preocupe com a correção ou edição, se estimule a escrever, mesmo que o texto esteja imperfeito, seja tolerante e não se sinta culpado caso produto final não tenha atingido suas expectativas.

3. Trabalhe com constância e moderação

Os benefícios de se tratar a escrita como um hábito diário e não como um momento de inspiração são diversos. Ao praticar sessões de escrita breves e diárias (brief, daily sessions-BDS) o escritor mantém as ideias “frescas” na mente, consegue escrever com menos sofrimento e maior abertura, reduz a pressão da escrita perfeita nos primeiros rascunhos, estimula a criatividade, entre outros. Para que essa prática se torne um hábito, o autor dá as seguintes dicas: separe uma hora específica para escrever, de preferência no mesmo local, se force a escrever no curto prazo, não aguarde o dia em que haverá tempo livre para isso, dez ou quinze minutos inicialmente são importantes e comece, mesmo sem inspiração. Conforme a pesquisa científica realizada pelo autor, escritores que utilizam a constância e a moderação produzem mais e com mais qualidade.

Rosana Pinheiro-Machado é cientista social, docente, escritora e pesquisadora.

4. Pare

Em poucas palavras: quando não conseguimos parar de escrever sob efeito do sentimento de recompensa, nós escrevemos compulsivamente. Isso, a priori, pode parecer algo interessante e bastante produtivo, entretanto, ao longo dos dias passa a ser frustrante, já que o dia seguinte pode não ser tão inspirador e produtivo quanto o anterior, além do cansaço mental que a escrita compulsiva nos proporciona. Por isso, faça pausas durante a escrita em tempos pré-definidos e pare de escrever antes de se sentir fatigado, de forma que a sessão de escrita do dia seguinte comece animada e não dolorosa.

5. Escreva com equilíbrio

A transição por entre as dicas explicitadas anteriormente deve se dar de forma gradual. As duas primeiras fazem parte do que o autor define como pré-escrita e são os passos iniciais e após inseri-las na rotina, o autor partirá para a escrita formal. É exatamente do equilíbrio entre um ponto e outro que estamos falando neste tópico. Ao iniciar a segunda etapa do processo, é importante que o autor ainda mantenha os hábitos da pré-escrita, continue planejando os próximos passos e realizando anotações livres. O balanço entre a escrita e a pré-escrita evitará o excesso, o que significa um produto mais sucinto, contendo apenas o que precisa ser dito e exibido.

6. Se liberte dos pensamentos negativos

Ao escrever, não são raros que apareçam pensamentos relacionados a medo, cansaço, tristeza, impaciência etc, entretanto, ainda que de forma simplista, é importante se libertar desses pensamentos e associar a escrita a sentimentos saudáveis. Lembre-se do crescimento que a experiência pode te proporcionar e das razões que te levaram a empreendê-la. É um projeto pessoal? É uma etapa necessária para finalizar um grande projeto?

7. Modere o apego ao seu trabalho

Não raramente, relacionamos o nosso trabalho a perfeccionismo e super identificação. A dica número sete significa “afrouxar” um pouco essa relação e tentar enxergá-lo com mais leveza, isso o deixará menos engessado e aberto a críticas e alternativas possíveis.

“Não espere que o desconforto da crítica desapareça, ao invés disso, enfrente-a de forma calma e objetiva”

Lidar com as críticas talvez seja uma das maiores dificuldades ao escrever. Para torná-las construtivas e não o oposto, peça ao seu revisor para ser claro ao criticá-lo, isso significa não aceitar críticas vagas como “isso não está claro” ou “eu não gosto do seu estilo de escrita”. Respeitosamente, pergunte-o o que você poder fazer para tonar o trabalho mais claro.

8. Deixe os outros fazer um pouco do trabalho

O problema que nos leva a este tópico está, majoritariamente, relacionado ao fato de relacionarmos a escrita a algo original e solitário. Na prática, a ciência está fortemente relacionada à ideias antigas, seja pela continuação ou pelo ato de refutar. Portanto, compartilhe a sua escrita, deixe que o revisor faça o seu trabalho.

O presente texto foi baseado no livro “Advice for New Faculty Members: Nihil Nimus”, de Robert Boice, e faz parte do projeto Revista Jabuticaba.

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