Economia Solidária

Uma saída para a produção e o consumo conscientes

Ana Letícia Pastore
Revista Jabuticaba
3 min readFeb 18, 2019

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Cientificamente, foi destinado a nós, estudantes das ciências econômicas, a gestão dos recursos escassos, frase dita paulatinamente durante o início do curso. Com o passar do tempo, entretanto, tive a impressão de que esse objetivo já não era mais o foco. Na economia dita ortodoxa pouco se fala dos recursos ambientais que estão cada vez mais escassos, das transformações sociais que impactam na mão de obra disponível (êxodo rural, migração), entre outros pontos que demandam soluções urgentes. Lá pro lado da economia heterodoxa há uma interessante vertente econômica que vai na contramão do sistema de produção capitalista e nos apresenta uma uma forma de produção mais justa: a Economia Solidária.

O que é a Economia Solidária?

O mundo moderno tem suas relações de trabalho, pautadas nos preceitos do capitalismo. Ou seja, uma parte da sociedade será detentora de terras e máquinas, os chamados capitalistas (e não, eu não estou falando do seu avô que é dono de 20 hectares de terra no interior de Minas), enquanto a outra parte irá oferecer mão de obra no mercado de trabalho em troca de salário, a junção dos dois fatores produzirá bens que serão ofertados no mercado competitivo, onde os bons sobreviverão e os inferiores irão à falência, assim os consumidores terão acesso a produtos e serviços com a maior qualidade que o mercado pode oferecer. Simples, não? Nem tanto! Há vários percalços neste caminho e por isso alternativas surgiram ao longo dos anos.

Nesse contexto, a Economia Solidária, sugere uma forma de produção cooperativa, que respeite não somente o ser humano, mas também a natureza. Com os seus membros organizados em associações, as decisões são tomadas de forma coletiva e o engajamento de todos é necessário para que as decisões sejam tomadas de cima para baixo, não o oposto. Mundialmente, a Economia Solidária surgiu em Manchester, na Inglaterra, no início do século XIX, período marcado pelas mudanças geradas pela revolução industrial. Desde então, seus princípios foram se espalhando ao redor do mundo chegaram ao Brasil no final da década de 90.

Apesar de muitas vezes glorificada e vista como uma forma de superar o capitalismo, a Economia Solidária esteve sempre à margem do sistema, ganhando destaque em momentos de crises e transformações econômicas como alternativa para a geração de renda pelos mais pobres, em outras palavras: a Economia Solidária é menos gourmet do que se prega em diversas ocasiões e precisa do apoio das universidades e dos consumidores para deixar de ser somente um tema debatido na academia e pouco frequente na sociedade.

Produtos da Rede de Consumidores Tamanduá

Entre os princípios estabelecidos há dois séculos atrás, estão o trabalho justo e o cuidado com a terra, pautas que garantem formas mais conscientes e menos nocivas de produção e consumo.

Dito isto, o que é consumir consciente? Como posso apoiar a Economia Solidária?

As definições de consumo consciente são extensas, mas creio que quem já assistiu ao famoso mini-documentário Story of Stuff (quem não assistiu, assista!) saiba dos efeitos negativos do nosso modelo de consumo. Longas viagens de caminhão para entregar produtos “frescos”, monocultura intensiva nas propriedades, monopólio da produção, utilização de agrotóxicos em larga escala, e mão-de-obra desprotegida são a base alimentar das grandes e médias cidades brasileiras. Driblar todos esses problemas é realmente desafiador e muitas vezes inacessível para grande parte da população. Nesse emaranhado, valorizar quem produz é um pequeno-gigante passo para a mudança.

Um ótimo início é reduzir a distância entre produtor e consumidor, ao invés de ir a uma grande rede de supermercados, que comprou alimentos de um fornecedor, que comprou de um, ou vários, produtores, que plantaram de uma forma desconhecida (provavelmente em monocultura e utilizando agrotóxicos), você pode ir à feira da agricultura familiar, que provavelmente existe na sua cidade, comprar diretamente de quem produziu e valorizar devidamente o seu trabalho. Além de poder conversar com o feirante e obter informações sobre seu modo de produção.

As práticas solidárias existem e estão espalhadas pelas diversas cidades brasileiras, nas feiras agroecológicas, em pontos de artesanato, nas finanças solidárias, nas universidades, nas igrejas, entre outros. Para além de impactos individuais, cabe a nós, os “responsáveis” pela equação de problemas complexos, pensar, de fato, nos recursos disponíveis e nas soluções que já existem mas que muitas vezes não nos são apresentadas.

Esse texto foi baseado nas pesquisas realizadas para a minha monografia e faz parte do projeto Revista Jabuticaba.

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