Economias de Aglomeração: o exemplo de Toritama (PE)

Hannah Arcanjo Filgueira
Revista Jabuticaba
Published in
5 min readAug 6, 2020

O padrão de localização das indústrias têxteis/confecção de Pernambuco é desigual dos demais estados por causa das aglomerações existentes no Agreste Pernambucano e na Região Metropolitana do Recife (RMR). A região Agreste de Pernambuco possui o Polo de Confecções do Agreste composto pelos municípios de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, este último sendo o ponto central de um importante documentário.

Mapa da Região Agreste de Pernambuco, é possível observar a distância da capital, Recife. Disponível em: http://especiais.leiaja.com/descosturandoacrise/materia1.html

Já sendo enfatizada a importância econômica dessa região, que se caracteriza por ser um pequeno município no Brasil, possuindo uma população estimada em 44 mil pessoas, é destaque no documentário produzido e roteirizado pelo cineasta Marcelo Gomes, ‘Estou me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019)’. Considerada a capital nacional do Jeans, segundo o Portal da Transparência da prefeitura, Toritama dispõe do potencial de produzir cerca de 60 milhões de peças por ano, aproximadamente 15% da produção nacional, portanto, praticamente toda a economia local é baseada no que chamam o Ouro de Toritama.

Outdoor na entrada de Toritama. Disponível em: http://www.vitrinefilmes.com.br/site/?page_id=5357.

Toritama é reconhecida pelas várias fábricas de fundo de quintal, onde a própria população, sejam homens ou mulheres, de maior parte da mesma família, trabalha de forma manual. Grande parte dos trabalhadores tem orgulho do que fazem, principalmente os que têm a própria fábrica de fundo de quintal, por não trabalharem para ninguém, é exaltado, sempre que possível, que são donos do próprio tempo e produção, todavia, como apenas há o ganho por produção, a jornada de trabalho se intensifica, conseguindo, assim, atingir uma produção elevada, podendo chegar das 07h até às 22h.

O barulho ensurdecedor do maquinário das grandes fábricas de jeans e das chamadas facções de fundo de quintal de Toritama apenas se cessa na hora do almoço, pois se tem uma forte sensação de que o tempo é preenchido por um trabalho sem fim.

Trabalhadores em uma das várias fábricas de jeans da região. Disponível em: http://www.vitrinefilmes.com.br/site/?page_id=5357.

De acordo com estimativas do FADE/SEBRAE (2003), Toritama tem cerca de 86% das empresas de confecção informais do estado. Com base nos mesmos dados, presentes no artigo da mestranda em Economia Larissa de Assis Silva de título ‘Economias de Aglomeração e proximidade geográfica: evidências para a indústria têxtil e de confecção de Pernambuco’, e com dados do Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2017, o Polo de Confecções do Agreste, no qual Toritama faz parte, entre 2007 e 2017 o maior crescimento percentual ocorreu em municípios que fazem divisa com o Polo do Agreste indicando que essa região tem um grande potencial de crescimento.

No mesmo artigo, com um mapa formado com os dados da RAIS em 2007 e 2017, é possível verificar o desenvolvimento, em questão de espaço, da indústria têxtil e de confecção destacando três municípios, Brejo da Madre de Deus, São Caetano e Vertentes, cidades que fazem fronteira com Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, os municípios acima citados apresentaram um crescimento considerável no período saindo de uma média de 4 estabelecimentos em 2007 para 23 em 2017, indicando uma série de vantagens da concentração industrial de firmas do mesmo setor. Como é possível observar nos mapas abaixo:

Disposição dos estabelecimentos da indústria têxtil e de
confecção por municípios de Pernambuco em 2007.
Disponível em: https://www.anpec.org.br/encontro/2019/submissao/files_I/i10-9741a269565fd276e7c34ce1412af1dd.pdf
Disposição dos estabelecimentos da indústria têxtil e de
confecção por municípios de Pernambuco em 2017.
Disponível em: https://www.anpec.org.br/encontro/2019/submissao/files_I/i10-9741a269565fd276e7c34ce1412af1dd.pdf

O PIB per capita de Toritama era de R$ 14.131,28 em 2017, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em comparação com outros municípios do estado, manteve a posição 27º de 185º. Já na microrregião, conquista a primeira colocação dos 9 municípios pernambucanos.

Alfred Marshall (1842–1924) foi um economista britânico pioneiro em fornecer uma descrição detalhada das fontes de economias de aglomeração, essas economias geralmente são entendidas como aglomerações geográficas de indústrias ou demais atividades econômicas que se concentram em um dado local em busca de algumas determinadas vantagens no que se refere à cadeia produtiva.

Marshall identificou três fontes ou origens possíveis de tais economias, sendo elas:

1. Spillovers de conhecimento — se muitas empresas da mesma indústria estão agrupadas no mesmo local, isso implica que os funcionários de qualquer empresa particular tenham acesso relativamente fácil a funcionários de outras empresas locais. Como todas as fábricas de fundo de quintal são vizinhas, com este agrupamento, há a troca mútua de conhecimento entre os funcionários de cada pequena fábrica de Toritama, melhorando a eficácia de cada um.

2. Insumos locais não comercializados — onde há muitas empresas do mesmo setor agrupadas na mesma área, haverá a oportunidade de que certos insumos especializados sejam fornecidos ao grupo, de forma mais eficiente do que seria se todas as empresas estivessem dispersas.

Sendo assim, o custo médio do serviço estará abaixo do mercado, pois os custos de instalação são distribuídos pelo grande número de empresas clientes locais, fornecedores e clientes de Toritama podem compartilhar do mesmo benefício.

3. Agrupamento de mão de obra especializada — o agrupamento local de mão de obra especializado permite que as empresas reduzam seus custos de aquisição de mão de obra, sendo assim, as empresas encontram funcionários o suficiente para à demanda e há a certeza de que o trabalho será realizado corretamente. No caso de Toritama, é citado que qualquer um poderá aprender as funções de há dentro das fábricas, porém existe um custo de oportunidade em realizar treinamentos com futuros funcionários, além de virem de outras localidades.

O documentário também descreve a mudança do mundo rural e calmo, com feiras livres e plantações, o mundo que o diretor conheceu, para a alta movimentação diária, o barulho incessável do maquinário e toda a produção à vapor. Apenas em uma época do ano esta rotina muda, no Carnaval (no qual vem à tona nome ao documentário), onde é a única folga que os trabalhadores têm durante o ano, exceto o Natal. A tradição local é de passar o carnaval à beira-mar, vendem tudo o que é possível e que está ao seu alcance para passarem os 8 dias de merecido descanso, apenas neste momento, Toritama fica calma, com ruas desertas, sem barulho de carros e máquinas, como era a Toritama de apenas 40 anos atrás.

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