III. Economistas no Brasil da Pandemia

O que os economistas brasileiros têm dito sobre a crise econômica provocada pela Covid-19?

João A. Leite
Revista Jabuticaba
4 min readApr 24, 2020

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Desde 2015, ano em que estourou a mais recente recessão da economia brasileira, os economistas do país travaram acirradas discussões sobre o diagnóstico da crise e os remédios necessários para colocar a economia de volta nos trilhos. Com a modesta recuperação dos últimos três anos, o foco do debate passou a ser quais as medidas necessárias para elevar o crescimento, que segundo alguns economistas, se encontrava abaixo de seu potencial.

Contudo, 2020 colocou antigos dissensos de lado para trazer novos consensos entre economistas heterodoxos e ortodoxos no Brasil. Infelizmente, o motivo não foi dos melhores, o novo coronavírus transformou a vida de muitas pessoas ao redor do mundo da noite para o dia. Para evitar uma propagação acelerada do vírus levando à insuficiência do sistema de saúde, quase todos os países adotaram medidas preventivas como o distanciamento social, colocando trabalhadores e empresas em uma situação de grande fragilidade.

Neste cenário, alguns políticos brasileiros passaram a entender a situação como uma dicotomia entre perder vidas para o novo vírus ou perder vidas pela fome e pobreza advinda da paralisia parcial da economia. Apesar deste aparente impasse terrível, um exame mais aprofundado da opinião de infectologistas e economistas sugere que esta dicotomia se trata de uma situação falsa. Este texto se propõe a mostrar alguns consensos atingidos por alguns importantes nomes da economia.

Tomando como ponto de partida, alguns nomes com grande relevância no debate econômico público nos últimos anos e que vêm contribuindo para as discussões em meios de comunicação participando de programas, entrevistas e escrevendo colunas jornalísticas, encontram-se pontos de convergência importantes para lidar com a crise. Declarações e posicionamentos de Monica de Bolle, Samuel Pessôa, Henrique Meirelles, Laura Carvalho, Armínio Fraga, Pérsio Arida e Carlos Góes foram usados para apresentar os seguintes tópicos de consenso:

I — Na ausência de vacinas e tratamentos comprovadamente eficientes contra a Covid-19, o afastamento social se apresenta como a melhor alternativa de contenção da pandemia no curto prazo;

II — O processo recessivo de curto prazo é certo com ou sem afastamento social. O comportamento das pessoas não permanece o mesmo em um cenário de pandemia, portanto, a oferta e da demanda respondem de forma anômala;

III — A lista de prioridades deve ser: i) Salvar vidas; ii) Garantir proteção social para as pessoas em situações de maior vulnerabilidade como pessoas pobres, trabalhadores informais e desempregados, iii) Auxiliar as empresas e negócios colocados em situação de risco, em especial as pequenas e médias empresas, ou empresas de setores mais prejudicados pela crise;

IV — Neste momento, é necessária uma atuação forte e coordenada do governo federal com os demais entes federativos, pois este possui poder de condicionar certas variáveis econômicas e promover ações importantes medidas de saúde pública através do SUS. Neste sentido, muitos economistas se posicionaram contrários às medidas que o governo federal adotou nos primeiros dias da crise que estiveram pouco alinhadas com a posição tomada por muito governadores e prefeitos;

V — Esta é uma situação é anômala na história da economia brasileira e por isso, é necessário aceitar um nível maior de endividamento para promover ações econômicas necessárias para amenizar os danos da pandemia.

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/04/15/juiz-federal-proibe-bancos-de-dificultarem-concessao-de-emprestimo.htm

Entretanto, apesar destas concordâncias, existem importantes divergências de opinião em relação à preservação do Teto de Gastos do Governo Federal, instaurado como Emenda Constitucional em 2016, que limita o crescimento das despesas do governo para os 20 anos seguintes. Alguns economistas defendem que a regra fiscal fornece as ferramentas necessárias para lidar com a crise, enquanto outros apontam que o teto mais cedo ou mais tarde sucumbiria e que a situação atual já requer sua queda.

Ainda não há grandes discussões sobre as melhores estratégias para a retomada gradual da “normalidade” da atividade econômica, mas é provável que este também será um tema de discussão para os profissionais da área. Contudo, cabe aqui um importante adendo, a maioria dos economistas reconhece que esta é uma situação ímpar na história recente da economia, trata-se de uma crise de saúde que gera consequências danosas à economia, a raiz do problema não é uma questão econômica propriamente dita, portanto, a opinião de especialistas da área de saúde e da infectologia devem nortear os caminhos viáveis para conduzir a economia.

Este texto faz parte do projeto Revista Jabuticaba e dá continuidade a uma série especial de textos relacionados à pandemia do coronavírus.

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João A. Leite
Revista Jabuticaba

Mineiro e bacharel em ciências econômicas pela UFJF. Externalizo aqui alguns pensamentos, análises e reflexões que ebolem na minha mente inquieta.