Macroeconomia Contrassensual & Utopia Ordoliberal

Paulo Silveira
Revista Jabuticaba
Published in
3 min readMay 1, 2019
Ana Rosa Debastiani — Moedas de Real | anarosadebastiani / Pixabay

A realidade atual é incompatível com a teoria macroeconômica convencional. Foi com essa afirmação que André Lara Resende inflamou toda sorte de debatedor econômico.

No cenário externo, inflação abaixo das metas após algumas edições de experimentos monetários, vulgo, afrouxamentos quantitativos. Endividamento público digno de grandes guerras. Economia chinesa sustentando consideráveis taxas de crescimento com destacado papel do investimento público.

No cenário doméstico, peculiaridades brasileiras, digo, jabuticabas. Duas décadas de baixíssimo crescimento econômico e três décadas de produtividade estagnada. Para Lara Resende, antes de qualquer coisa, é necessário compreender as razões pelas quais o Brasil se encontra onde está.

A chamada Belíndia está capturada, em termos objetivos e conceituais. A chave para a saída, segundo o co-idealizador do Plano Real, é a experimentação fiscal, capaz de estimular o crescimento e manter a economia no pleno emprego.

Contudo, isso implicaria o abandono de certos dogmas econômicos. Afinal, uma premissa falsa, ainda que com a melhor das intenções, levaria à conclusões equivocadas.

A existência da restrição financeira do governo é um desses dogmas. Na verdade, a restrição seria aquela imposta pela realidade, endossa Edmar Bacha, através da capacidade instalada, dos desequilíbrios internos ou externos e da pressão inflacionária.

É fácil imaginar que uma premissa tão audaciosa quanto essa não carecerá de admiradores no mundo político. Contudo, alguns de seus efeitos macro e microeconômicos esperados seriam, respectivamente, aumentar a demanda agregada e causar impactos positivos na alocação alocativos e redistribuição de recursos.

Portanto, o abandono de antigos pressupostos se justificaria em função da prioridade dado aos aspectos qualitativos dos gastos públicos. Nominalmente, aumentar a produtividade e a equidade da economia brasileira. Ainda assim, o conceito de custo de oportunidade seguiria irrenunciável. Isso é, uma condição deficitária com bons gastos e tributação eficiente seria preferível ao caso contrário.

O diagnóstico, porém, independe do arcabouço intelectual utilizado: baixíssimo crescimento e produtividade estagnada aliam-se ao colapso dos investimentos públicos, severa depreciação da infraestrutura e serviços básicos comprometidos.

Considerando tal contexto, a macroeconomia contrassensual seria capaz de suceder onde a política macroeconômica convencional fracassou: no estímulo dos investimentos e na facilitação da iniciativa privada, a partir da reformulação dos sistemas tributário, monetário e comercial.

Todavia, a ausência de restrição do governo deveria ser resguardada por imprescindíveis mecanismos de controle e avaliação dos custos e benefícios dos investimentos.

Em tom premonitório, Lara Resende coloca sua destemida utopia ordoliberal em defesa do capitalismo democrático. Cá entre nós, sua viabilidade política no Brasil seria questionável até mesmo numa ditadura benevolente à la Lee Kuan Yew, quiçá em nossa democracia nada benevolente.

O Brasil precisa sair do mesmo lugar e André Lara Resende é um economista que aparenta buscar respostas, não amigos.

Já sei a minha resposta, e você? Sabe a sua?

Meu nome é Paulo André, sou escritor do Terraço Econômico, graduando em ciências econômicas e tenho uma newsletter: Economia, Ciência e Filosofia. Me acompanhe no Facebook, LinkedIn ou Twitter e vamos conversando, tudo bem? Este texto faz parte do projeto Revista Jabuticaba.

Referências complementares

Obs.: algumas dessas referências fazem contrapontos às falas de Lara Resende, considere-as como um exercício de pensamento plural.

Afrouxamento Quantitativo

Dívida pública

Economia chinesa

Crescimento econômico e produtividade no Brasil

Infraestrutura

Perfil do orçamento público

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